São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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TELEVISÃO

Com estréia marcada para sábado, na Globo, "Central da Periferia" passará por SP, Rio, Recife e Belém
Programa de Regina Casé mostra "ações legais" da periferia

TV Globo/Divulgação
A apresentadora Regina Casé (de chapéu) em cena de "Central da Periferia", dirigido por Guel Arraes


MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Uma mistura do que Regina Casé e seus dois principais parceiros na TV, o antropólogo Hermano Vianna e o diretor Guel Arraes, já fizeram, de "Programa Legal" (1999) a "Mercadão de Sucessos" (2005), estréia no próximo sábado em "Central da Periferia", uma investigação das benesses em comunidades pobres do país.
"Nós fazemos televisão e, por isso, somos a periferia da cultura", diz a apresentadora do programa que será exibido após "Caldeirão de Huck". "É quase um programa de inclusão das elites. Aquelas pessoas não se sentem excluídas, pois fabricam sua própria cultura", acredita.
A periferia, claro, tem cidadãos do "bem" mas também é o lugar onde a criminalidade bate recordes e o tráfico, em grande parte das favelas, influencia na vida dos moradores. O que eles pensam a esse respeito? "Vimos que nem tudo era legal, mas que também havia algo bom para combater o que não era", diz Arraes. "Mudou a nossa postura política. É evidente que nunca fomos doidos ou alienados de achar que tudo estava uma maravilha. Fomos apenas afirmativos", conta Regina Casé. "Fazer televisão para a gente sempre foi um compromisso político", completa Vianna.
"Queríamos que fosse um programa de auditório", afirma Arraes. "Central da Periferia" (o nome, em si, ambíguo) começa num palco montado diante de uma grande platéia para apresentar artistas locais e populares; depois roda pelas ruas e casas das favelas em busca de depoimentos sobre o dilema dignidade-exclusão dos moradores. "Tudo o que é identificado como popular é visto de maneira pejorativa. Acho que ninguém é obrigado a gostar de música brega, mas não pode ignorar movimentos tão grandes que acontecem no Brasil", diz Casé.
Ela reclama do tempo na TV. "Se a gente mostrasse somente o que era ruim, não sobraria espaço para as ações legais. Agora, podemos mostrar outros lados também. O espaço que a periferia tem na mídia é criminalizado; a pessoa aparece se o barraco cair em cima ou se ela for morta, envolvida em tragédias", afirma.
Para ela, "Central da Periferia" é conseqüencia do que já fez na TV. "A gente foi empurrado para isso. Quando fiz aquele quadro com as crianças para o "Fantástico", um dos temas era o medo. Perguntei se elas tinham medo de bicho-papão. As da favela disseram temer o "caveirão" [veículo blindado da polícia carioca]. Eu não tinha a intenção de falar disso, mas gerou uma enorme repercussão", conta.
Segundo Vianna, o programa mostra um país que muita gente não conhece. "É um processo interessantíssimo da cultura, da política e da história brasileiras. As periferias estão organizadas -tanto em novos movimentos culturais, que acontecem à margem da televisão e da indústria fonográfica- quanto em projetos sociais, de cidadania e de inclusão", diz o antropólogo, chamado por Regina Casé de "arqueólogo" por garimpar pelo Brasil pessoas, histórias de vida e tendências pouco conhecidas no país.
O programa será mensal e terá quatro episódios, inicialmente, exibidos nas tardes de sábado. "É um dia em que a periferia está em casa", diz Regina Casé.
O primeiro episódio passeia por Recife e apresenta artistas de sucesso local. Termina com um apitaço de mulheres contra a violência doméstica.
As próximas passagens serão por São Paulo, Rio e Belém.


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