São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011

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Livro de Proust pode ganhar novo título brasileiro

DE SÃO PAULO

Enquanto Rubens Figueiredo pode desfrutar a sensação de dever cumprido e Caetano Galindo está em vias de concluir seu trabalho, o jornalista Mario Sergio Conti apenas começa sua epopeia.
Conti, 56, vai traduzir nos próximos anos os sete volumes que compõem a obra "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust.
Os livros, assim como o "Ulysses" de Galindo, sairão pelo selo Penguin-Companhia das Letras e contarão com notas explicativas e textos introdutórios.
O primeiro volume deve sair no segundo semestre do ano que vem.
"A ideia é fazer uma versão barata, com introdução didática, atualizada para o público do século 21", explica.
Conti vem traduzindo aos poucos, nas folgas do horário de trabalho como editor da revista "Piauí".
Ele descobriu Proust aos 18 anos e desde então vem lendo o autor também em francês e inglês. Além da intimidade com a obra, Conti tem a seu favor centenas de livros escritos sobre o autor francês nas últimas décadas, que permitem um trabalho mais acurado.
"A primeira tradução brasileira do livro, feita por Mário Quintana na década de 40, foi um ato heroico. Quase não havia bibliografia sobre Proust na época", diz.
Os 60 e poucos anos que separam as traduções dão margem a novas abordagens -inclusive no título da obra.
Ele defende que "Em Busca do Tempo Perdido" não é a solução mais apropriada para o original "À la Recherche du Temps Perdu".
"A palavra "recherche" pode ser tanto "busca" como "procura". Mas acho que "à la recherche" se aproxima mais de "à procura". "Busca", no sentido de "descoberta", está mais no verbo "quêter". Talvez eu faça essa mudança, ainda não decidi."
Uma frase do início do primeiro livro da série, "No Caminho de Swann", também recebe nova interpretação.
O tradutor conta que "Longtemps, je me suis couché de bonne heure" foi traduzido por Quintana como "Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo".
O mais correto, explica, seria "Durante muito tempo, deitei-me cedo".
"A escolha adoça e atenua a aspereza da frase original de Proust. Por isso novas traduções são sempre úteis: para atualizar a visão que temos sobre as obras." (MRA)


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