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Nunca vou saber
HELOISA SEIXAS
Ergui o fone do gancho.
Deu sinal. Disquei o primeiro algarismo. Quando
ia teclar o segundo, percebi
vozes abafadas -uma linha cruzada. Normal. Continuei discando. Agora estava chamando. Mas entre
uma chamada e outra voltei
a ouvir as vozes, agora um
pouco mais claras. Ou melhor, a voz. De mulher. Parecia aflita. De repente, o
grito. Ouvi nitidamente
quando aquela voz pediu
socorro. Um pedido desesperado. E, neste instante
exato, alguém atendeu do
outro lado, desfazendo a linha cruzada. O grito ficou
perdido, partido -sem
resposta. Mas não pude
mais esquecê-lo.
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