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MÚSICA
Quinta edição do evento acontece de hoje a sábado, em Salvador
PercPan volta a apostar no poder da percussão
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Começa hoje em Salvador a
quinta edição do Panorama Percussivo Mundial (PercPan). Misturando samba, coco, ritmos ancestrais japoneses, bumba-meu-boi, afoxé e música africana, o festival aposta na percussão como linguagem universal.
Treze atrações musicais de cinco
países vão se apresentar no palco
do teatro Castro Alves até amanhã.
No sábado, todos os artistas reencontram-se em um grande concerto coletivo (conheça o elenco,
no quadro ao lado).
O percussionista Naná Vasconcelos, que divide a direção artística
do festival com o cantor e compositor Gilberto Gil, anuncia três
noites recheadas de surpresas musicais e muita espontaneidade.
"Estou muito curioso para ver o
concerto de abertura. Os Filhos de
Gandhy vão abençoar a platéia,
com aquele tradicional perfume
de seiva de alfazema. Será um início bem forte", disse o músico
pernambucano à Folha, anteontem, por telefone, de Salvador.
Depois de três edições com temas genéricos (o do ano passado
foi "Modernas Tradições"), que
justificavam as presenças de artistas não-ligados diretamente ao
universo percussivo, Naná acredita que o retorno ao formato inicial
do evento será benéfico.
"A música será contínua. Agora,
eu e Gil não vamos precisar mais
fazer vinhetas para interligar as diversas atrações. Isso abre mais
possibilidades para que os grupos
possam tocar juntos."
Entre os quatro convidados estrangeiros, o diretor artístico do
festival mostra-se especialmente
excitado com o trabalho musical
do africano Aja Addy.
"Além de mestre em percussão,
ele é sacerdote, uma espécie de babalorixá (pai-de-santo) de Gana.
Acabei de vê-lo tocando um "talking drum' (tambor falante). É um
negócio muito sério: ele conta histórias com o tambor."
Apesar de já ter se apresentado
antes no PercPan, num dos concertos mais aplaudidos durante a
edição de 1996, o percussionista
senegalês Doudou N'Diaye Rose
retorna a Salvador com um grupo
totalmente diferente.
"Desta vez ele trouxe uma orquestra de percussão formada só
por mulheres. Doudou é um pioneiro em quebrar barreiras", diz
Naná, lembrando que, na tradição
africana, só os homens podiam tocar os tambores.
Outro exemplo do crescimento
feminino no universo da percussão, presente neste festival, é a italiana Alessandra Belloni, especialista em "frame drums", espécie de
pandeiros sem platinelas (os pequenos aros de metal).
"Alessandra toca vários pandeiros italianos, russos e árabes, cada
um com diferentes técnicas. As
apresentações dela são bem teatrais. Às vezes, até recita poemas,
dança e canta. É uma verdadeira
performance", analisa Naná.
Outra surpresa desta edição, da
qual o próprio percussionista pernambucano fará parte, é a banda
Frutos do Mangue. Formada especialmente para a ocasião, inclui o
cantor Alceu Valença e músicos
do grupo Mestre Ambrósio.
"Ensaiamos bastante lá em Pernambuco. Será um show muito
alegre, bem para cima, que vai de
coco, maracatu, bumba-meu-boi
e banda de pífaros até música de
velório", diz Naná.
Surpresas também não devem
faltar durante a apresentação do
"bruxo" Hermeto Pascoal, conhecido por seus longos improvisos
com instrumentos insólitos, como
chaleiras e garrafas.
"Ele nos pediu uma banheira
cheia de água no palco, mas depois
parece ter mudado de idéia. Em
todo caso, a banheira está à disposição", avisa Naná, rindo.
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