São Paulo, quinta, 2 de abril de 1998

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MÚSICA
Quinta edição do evento acontece de hoje a sábado, em Salvador
PercPan volta a apostar no poder da percussão

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Começa hoje em Salvador a quinta edição do Panorama Percussivo Mundial (PercPan). Misturando samba, coco, ritmos ancestrais japoneses, bumba-meu-boi, afoxé e música africana, o festival aposta na percussão como linguagem universal.
Treze atrações musicais de cinco países vão se apresentar no palco do teatro Castro Alves até amanhã. No sábado, todos os artistas reencontram-se em um grande concerto coletivo (conheça o elenco, no quadro ao lado).
O percussionista Naná Vasconcelos, que divide a direção artística do festival com o cantor e compositor Gilberto Gil, anuncia três noites recheadas de surpresas musicais e muita espontaneidade.
"Estou muito curioso para ver o concerto de abertura. Os Filhos de Gandhy vão abençoar a platéia, com aquele tradicional perfume de seiva de alfazema. Será um início bem forte", disse o músico pernambucano à Folha, anteontem, por telefone, de Salvador.
Depois de três edições com temas genéricos (o do ano passado foi "Modernas Tradições"), que justificavam as presenças de artistas não-ligados diretamente ao universo percussivo, Naná acredita que o retorno ao formato inicial do evento será benéfico.
"A música será contínua. Agora, eu e Gil não vamos precisar mais fazer vinhetas para interligar as diversas atrações. Isso abre mais possibilidades para que os grupos possam tocar juntos."
Entre os quatro convidados estrangeiros, o diretor artístico do festival mostra-se especialmente excitado com o trabalho musical do africano Aja Addy.
"Além de mestre em percussão, ele é sacerdote, uma espécie de babalorixá (pai-de-santo) de Gana. Acabei de vê-lo tocando um "talking drum' (tambor falante). É um negócio muito sério: ele conta histórias com o tambor."
Apesar de já ter se apresentado antes no PercPan, num dos concertos mais aplaudidos durante a edição de 1996, o percussionista senegalês Doudou N'Diaye Rose retorna a Salvador com um grupo totalmente diferente.
"Desta vez ele trouxe uma orquestra de percussão formada só por mulheres. Doudou é um pioneiro em quebrar barreiras", diz Naná, lembrando que, na tradição africana, só os homens podiam tocar os tambores.
Outro exemplo do crescimento feminino no universo da percussão, presente neste festival, é a italiana Alessandra Belloni, especialista em "frame drums", espécie de pandeiros sem platinelas (os pequenos aros de metal).
"Alessandra toca vários pandeiros italianos, russos e árabes, cada um com diferentes técnicas. As apresentações dela são bem teatrais. Às vezes, até recita poemas, dança e canta. É uma verdadeira performance", analisa Naná.
Outra surpresa desta edição, da qual o próprio percussionista pernambucano fará parte, é a banda Frutos do Mangue. Formada especialmente para a ocasião, inclui o cantor Alceu Valença e músicos do grupo Mestre Ambrósio.
"Ensaiamos bastante lá em Pernambuco. Será um show muito alegre, bem para cima, que vai de coco, maracatu, bumba-meu-boi e banda de pífaros até música de velório", diz Naná.
Surpresas também não devem faltar durante a apresentação do "bruxo" Hermeto Pascoal, conhecido por seus longos improvisos com instrumentos insólitos, como chaleiras e garrafas.
"Ele nos pediu uma banheira cheia de água no palco, mas depois parece ter mudado de idéia. Em todo caso, a banheira está à disposição", avisa Naná, rindo.



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