São Paulo, quinta, 2 de abril de 1998

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Curta "Botas Assassinas" retrata barbárie atual

da Equipe de Articulistas

"Quebrar costelas é bom, mas nada se compara ao som da bota estourando um crânio. É como quebrar um ovo cozido."
Parece diálogo de "Laranja Mecânica", mas não é. É o depoimento de um jovem sueco no curta-metragem "Botas Assassinas".
Se o tema da violência juvenil é um dos lugares-comuns de nossa época, o diretor sueco Kjell-Ake Olsson escolheu um modo original e eficiente de abordá-lo: a metonímia.
Seu filme centra o foco naquelas botas de bico de aço e cano longo usadas como arma pelos jovens neonazistas e imbecis de toda espécie.
Na descrição das tais botas, na documentação de seu processo de fabricação, na entrevista de um fabricante, há uma ironia e um sarcasmo que beiram o humor negro.
Mas esse tratamento ligeiro -que lembra um pouco o uso cômico do documental por cineastas brasileiros como Jorge Furtado e José Roberto Torero- tem um contraponto dramático poderoso: o registro da lenta recuperação de um rapaz que foi chutado na cabeça e passou um tempo em coma.
Em apenas 19 minutos, "Botas Assassinas" dá conta de um quadro social crítico sem perder de vista a dimensão individual dos dramas narrados. Uma proeza que que poucos filmes -mesmo de longa-metragem- conseguem realizar.
(JGC)


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