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"Na Suécia, não há equilíbrio nenhum"
da Redação
"Aos olhos do mundo, na Suécia, tudo parece estar sempre sob
controle, em equilíbrio. Só que
não há equilíbrio nenhum." É assim que o professor de jornalismo
e documentarista Kjell-Ake Olsson, 57, dá um chute na aparente
harmonia da sociedade sueca, durante visita a São Paulo para a exibição de "Botas Assassinas".
Calçado com botas pretas de cano alto, "mas sem ponta de aço",
como fez questão de frisar, Olsson
também aproveita a passagem pelo Brasil para tentar captar imagens e depoimentos sobre o ressurgimento da tuberculose.
"Talvez faça algo aqui, se encontrar pessoas." No roteiro de Olsson para o filme, ainda estão Índia, Nepal e África do Sul. O material será utilizado na sequência de
"Hold Your Breath" (Prenda Sua
Respiração), documentário sobre
a doença no mundo que preparou
para a TV escandinava em 96.
Após o registro da enfermidade
física, o diretor partiu para o retrato da patologia social. Olsson iniciou a produção de "Botas Assassinas" após ver uma propaganda
desses sapatos em uma revista para adolescentes, em que "elas eram
intituladas "killer boots' (botas assassinas), assim mesmo. E a juventude sueca sabe inglês, então
elas sabem exatamente a idéia que
está sendo exibida ali, para vender, o que é chocante. Eu tinha de
mostrar essas coisas".
O resultado veio depois de dois
anos de pesquisa e US$ 40 mil.
"Precisava enfocar a coisa de perto. Não quis falar com a polícia,
para eles dizerem: "Não há nada
disso'. A Suécia tem oito milhões
de habitantes, dos quais cerca de
um milhão são estrangeiros que
vivem em grandes cidades, onde
os ataques de jovens racistas são
mais frequentes", afirma Olsson.
O documentário, concluído em
97, foi apresentado em escolas locais e teve sua exibição proibida
no norte da Suécia, por ter sido
considerado estimulante à violência.
Ao registrar a juventude em cidades suecas, como Estocolmo e
Uppasala, e o processo de fabricação de coturnos em Northamptonshire, no interior da Inglaterra
(região notória pela indústria de
calçados), o filme também foi visto como um libelo contra a confecção de botas com pontas de aço.
"Uma vez me perguntaram se eu
quis proibir as botas com esse documentário. Poderia dizer sim, e
tudo ficaria fácil de ser entendido.
Mas elas são apenas um detalhe.
São uma metáfora para um conjunto maior de fatores."
Auto-intitulado "uma colagem
de vozes, peles e sapatos", o filme
chega a enumerar esses possíveis
"fatores". A lista engloba dos pais
dos adolescentes ao Ministério do
Trabalho, das "forças de mercado" a Deus.
Para saber sobre quem o diretor
joga a culpa, basta "prestar atenção na ordem em que os culpados
aparecem", Olsson dá a dica, rindo, "mas essa conclusão deve vir
das reflexões do espectador".
(DENISE MOTA)
Filme: Botas Assassinas
Produção: Suécia, 1997, 19 min.
Direção: Kjell-Ake Olsson
Quando: hoje, às 15h e às 19h, no Cinesesc
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