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DA RUA
Como?
FERNANDO BONASSI
Como um rio sedento desconhece a própria natureza
molhada. Como uma mulher
de pés inchados ao lado das
sandálias perdidas. Como roleta-russa a que faltasse o revólver importado. Como um
martelo de borracha sobre
um prego de aço. Como um
porco-espinho pisando em
fios de ovos. Como alguém
acerta o lugar errado. Como
uma caveira que se assusta.
Como moscas sobrevivem
aos cadáveres. Como suicidas
sentem falta. Como meninos
invejam pais. Como consultores apreciam arte. Como vitoriosos sorriem. Como juízes dormem. Como padres
olham o próprio umbigo. Como um pára-quedas sem corpo. Como maçã sem sementes. Como antes. Como há
males que vêm por vir. Como
um Deus ausente volta pra
ver o que fez.
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