São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2001

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DA RUA

Como?

FERNANDO BONASSI

Como um rio sedento desconhece a própria natureza molhada. Como uma mulher de pés inchados ao lado das sandálias perdidas. Como roleta-russa a que faltasse o revólver importado. Como um martelo de borracha sobre um prego de aço. Como um porco-espinho pisando em fios de ovos. Como alguém acerta o lugar errado. Como uma caveira que se assusta. Como moscas sobrevivem aos cadáveres. Como suicidas sentem falta. Como meninos invejam pais. Como consultores apreciam arte. Como vitoriosos sorriem. Como juízes dormem. Como padres olham o próprio umbigo. Como um pára-quedas sem corpo. Como maçã sem sementes. Como antes. Como há males que vêm por vir. Como um Deus ausente volta pra ver o que fez.


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