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GASTRONOMIA
COZINHA CRIATIVA
O inovador chef Ferran Adrià espalha seu "vírus" pelo mundo
Restaurante El Bulli planeja instalar filial no Brasil
CRÍTICO DA FOLHA
Um vírus ronda a Europa e coloca também o Brasil em sua mira: é o vírus da mais moderna gastronomia que se pratica hoje em
dia. Seu nome: "El Bulli vírus". O
agente propagador: o cozinheiro
mais falado e talentoso da atualidade, o catalão Ferran Adrià, sócio e chef de cozinha do restaurante El Bulli, na Costa Brava espanhola, próximo a Barcelona.
À Folha, Adrià contou que pretende abrir uma filial do restaurante no Brasil. Mas ainda não sabe em qual cidade.
E visitar o El Bulli catalão não é
tarefa para este ano. Seus 45 lugares já estão todos reservados até o
fim da temporada. A casa funciona somente seis meses por ano, de
abril a setembro, e somente para o
jantar. As reservas começam a ser
feitas no primeiro dia do ano -e
se esgotam rapidamente.
Mas a legião de fãs que o procuram na pequena enseada (a cala
Montjoi), a três horas de carro de
Barcelona, não se arrepende. Eles
buscam uma experiência surpreendente, uma cozinha inovadora e instigante.
É uma cozinha que ficou conhecida como a da desconstrução:
onde a sopa é sólida, os croquetes
são líquidos, as formas interferem
no impacto das substâncias sobre
o paladar, os aromas podem vir
adicionados à comida, em pequenos cartões perfumados. Onde os
pratos frequentemente requerem
instruções do garçom, como o camarão que deve ser mastigado
primeiro pela cabeça crocante para depois ter a carne (crua) levada
à boca, mas não engolida antes de
se sorver um concentrado apresentado numa pequena ampola.
Tanta parafernália, repetida ao
longo de 14 a 30 pratos servidos
num jantar, poderia tornar a refeição friamente técnica não fosse
o detalhe: é tudo muito saboroso,
surpreendentemente saboroso.
Esse turbilhão criativo não
acontece do nada; é fruto de um
trabalho árduo e sistemático desenvolvido por Adrià e por seu irmão Alberto durante os seis meses do ano em que o restaurante
está fechado: nessa época eles e
sua equipe se encerram em seu
"taller" (oficina) de Barcelona, espécie de laboratório onde realizam novas experiências, que resultam na invenção de pratos.
Ali nasceram as espumas quentes de água do mar, o pó de foie
gras e outras surpresas. Tudo isso
termina na boca dos poucos privilegiados que conseguem uma mesa para o jantar (não muito cara,
aliás: algo como US$ 100, bem razoável para um restaurante de
três estrelas no guia Michelin).
"Recebo aqui 8.800 pessoas por
ano. Mas recebo também milhares de pedidos de reserva que não
posso atender", disse Adrià. "Como o meu restaurante não pode
ser maior, e não quero que ele seja
maior, pensei em como fazer minha filosofia chegar a mais gente",
diz o chef catalão de 45 anos, há 20
no restaurante, onde começou
como assistente na cozinha e rapidamente chegou a proprietário.
Daí nasceu o projeto chamado
"El Bulli vírus". Uma forma de
propagar os conceitos do chef,
mas não na forma de restaurantes
iguais ao seu, já que ele considera
que seu estabelecimento na Catalunha não pode ser reproduzido.
A solução encontrada: os "hospedeiros do vírus" serão hotéis.
"Gosto muito de hotéis, e há muitos que trazem grande conforto,
mas custam US$ 1.000 dólares por
dia. Então achei que devíamos fazer algo novo para os hotéis urbanos, de três ou de quatro estrelas."
Como esses hotéis costumam
ser frios e burocráticos, Adrià
imaginou algo que pudesse ser
aconchegante para o viajante.
"Um dos lugares onde o viajante
fica mais à vontade é a sala vip do
aeroporto. Fica lendo, vendo televisão, beliscando alguma coisa...
Pensei em fazer uma espécie de
biblioteca lúdica, como uma casa,
bem tranqüila. Pretendo implantar isso nuns 50 hotéis em vários
países, e o Brasil é um deles."
As primeiras experiências começam ainda este ano, na Espanha mesmo. Adrià criou os espaços que ele chama de "nhube",
uma referência a "nube" (nuvem). Sua intenção é revolucionar
a idéia clássica de restaurante ao
realizar "uma combinação de
ócio, restauração e descanso",
reunindo num mesmo espaço as
idéias de restaurante, sala de estar,
bar, biblioteca e mesmo cozinha.
Segundo Adrià, nesses espaços
a comida terá pratos triviais e outros sofisticados, mas sempre
marcados pela simplicidade:
"prefiro a melhor batata a uma lagosta que seja apenas regular".
Haverá garçons, mas cada gourmet poderá também se servir. Até
cozinhar. "Depende do que queira nosso cliente", diz o chef.
Os dois primeiros espaços
"nhube" serão em Madri e Bilbao.
Depois, Brasil. "Só não sabemos
ainda onde. Tenho pessoas que
estão procurando o local. Só sei
que tem de ser mágico; se não,
não pode ter um "Bulli vírus"."
(JOSIMAR MELO)
EL BULLI. Onde: Cala Montjoi, Ap. 30,
Roses, Espanha, tel. 00/xx/34/972-15-04-57. Na internet: www.elbulli.com.
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