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Informatização ajuda no controle das editoras
ARTICULISTA DA FOLHA
Há uma história simbólica, que
faz parte de um dos muitos folclores do mercado editorial brasileiro. O escritor João Antônio ("Malagueta, Perus e Bacanaço") tentava receber os direitos autorais na
sala do editor Ênio Silveira (Civilização Brasileira). "Sou comunista, estou sem dinheiro, vou falir se
te pagar", disse o editor.
O autor subiu na mesa de Silveira e o ameaçou de morte: "Se és
mesmo comunista, deverias ter
pena de mim, que passo fome".
Há dois momentos distintos no
mercado editorial brasileiro. No
primeiro, escrever era quase um
hobby ou uma missão. A partir
dos anos 80, os escritores se perguntavam por que não viver do
ofício, se existe um mercado. O
profissionalismo foi inevitável. O
controle dos direitos autorais passou a ser uma regra fundamental
da relação editor-escritor.
Lucia Riff, agente literária, afirma que o setor de livro deve ter lá
seus desonestos, mas ela acredita
que sejam poucos.
"A não ser que tenha um motivo para desconfiar, confio nos números que me mandam. Eu parto
do princípio de que, neste setor, a
desonestidade não compensa, e o
editor não sério não vai pra frente."
"A reputação de uma editora é
tudo. Boa parte dos bons autores
e contratos chegam por indicação
de amigos, por dicas de autores da
casa, por oferecimento de agentes
e editores estrangeiros."
Riff lembra que existem casos
isolados de autores que foram parar na Justiça contra seus editores.
"Mas são casos avulsos, e não a
prática do mercado. Tive mais
problema com inadimplências,
desistências ou abandono de projetos por conta de questões financeiras do que problemas de desonestidade explícita."
"Depois da informatização,
acredito mais no controle do sistema das editoras. Primeiro, vem
o meu pedido. Depois, a nota fiscal da gráfica. Com o demonstrativo do direito autoral, o autor teria controle de tudo", afirma Luiz
Schwarcz.
Segundo o editor da Companhia das Letras , para uma editora
roubar, teria de burlar o sistema.
"Sai mais caro burlar o autor, burlando o sistema operacional, do
que pagar direito."
Fernando Bonassi tem livros,
como "Passaporte", espalhados
por oito editoras. Ele já desconfiou de números enviados por um
editor e se sentiu roubado.
"Um editor vendeu três obras
minhas para um varejão e não me
pagou. Ele foi desonesto comigo e
desapareceu. Sua editora acabou
falindo. Acho que, quando um
autor vende muito, rouba-se menos, quando vende pouco, eles
roubam."
Luis Fernando Emediato lembra que montou a sua própria editora quando descobriu que estava
sendo passado pra trás.
"Nos anos 80, o Ministério da
Educação encomendou 50 mil
exemplares de um livro infantil
meu, enquanto meu editor me
afirmava que eram 5.000. Soube
por fora, rompi o contrato, imprimi por conta própria e vendi tudo. Minha primeira editora nasceu da fraude de um editor."
Ele diz ainda que já soube de
fraudes cometidas por editoras
brasileiras tradicionais contra autores estrangeiros. "Os agentes internacionais sabem disso, já pedem um adiantamento grande,
porque têm intimidades com o
nosso mercado."
O escritor José Roberto Torero
("Os Vermes") diz que confia nos
números enviados pela editora,
mas confere. "Já houve caso de escritor que tentou investigar a fundo os números enviados pelos
editores, mas não houve comprovação de nada", afirma.
Alex Antunes ("A Estratégia de
Lilith") conta que está no primeiro livro, e que ainda é fácil acompanhar os números de perto. Ele
não teve motivos de desconfiança. "Já ouvi boatos bem insistentes [de editoras que fraudam".
Não devo mencionar quais, mas
soaram extremamente plausíveis", afirma.
(MRP)
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