UOL


São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BELO HORIZONTE - CURITIBA

Representante do novo "som de Berlim" mostra ao Brasil o seu "hypnotic-elechtech"

Revolução laptop

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Alemanha não gosta de olhar para trás. Estrela principal dentro da programação de hoje do festival mineiro Eletronika, a música de vanguarda produzida em Berlim vem se reconstruindo e reaproveitando a cada minuto por nomes como o do grupo Laub e da inquietante DJ e produtora Ellen Allien. SP os verá em breve.
Sim, o electro já passou por lá, o tecno deu seus primeiros passos, mas a nova "Klangscape" (algo como paisagem sonora) alemã é mais experimental ainda, nasce mais das colagens em computador do que do trabalho nos pick-ups. ""Klangscape" é uma ótima palavra para descrever o meu set. Quando penso em "Klang", penso em um som bem distante dos arranjos clássicos do tecno, com batidas mais quebradas e sons abstratos", comenta Allien, fundadora do selo BPitch Control, que participa de palestra hoje, às 17h, com Antje Greie-Fuchs, do selo Kitty-Yo (Laub, Peaches et al).
Com apresentação marcada para mais tarde, às 21h, junto a nomes como o do inglês Brian Gee e dos brasileiros Marky e Anderson Noise, Allien estende a metáfora a outras dimensões: "No que se refere à paisagem física, "Klangscape" vai mais longe ainda. Com a música eletrônica, pela primeira vez, o produtor pode se livrar da restrição de ter de aprender um instrumento por dez anos até poder tocá-lo. Com a revolução do laptop, ganhamos um meio de expressão direto e simples", diz. "Podemos desenhar uma paisagem audível, criando ondas e montanhas usando harmonias suaves e destruindo-as com batidas quebradas", filosofa.
Antes que a viagem assuste, vale lembrar que "Berlinette", álbum mais recente que Allien traz na mala, é de fato o mais pop da carreira da produtora. ""Berlinette" é algo como o meu diário definitivo. Todas as minhas influências e experiências como DJ e produtora estão lá. Eu sou aberta a todos os gêneros musicais. O hip hop mudou a minha vida tanto quanto o tecno. Quando surgiu, era a primeira revolução na cultura jovem em 20 anos", diz ela, que recentemente trabalhou com figurões do novo electro como Miss Kittin, Sven Vath e The Hacker.
E como anda o namoro de Berlim e o electro? "No começo era divertido tocar músicas que lembrassem nossa infância. Mas, depois de meio ano, todos se cansaram. Não há nada de novo nisso. Ainda se ouve nos clubes, mas mais como um truque. Se o público não estiver muito eufórico você toca "1982" da Miss Kittin e a pista ferve. É isso."
O dito "som de Berlim", na opinião de Allien, resulta de um amálgama das diferentes variáveis musicais que invadiram a cidade após a queda do Muro: o hip hop, a house, o tecno, a IDM... "Eu jamais separaria o "som de Berlim" da evolução da música eletrônica. Não posso isolá-lo do som de Colônia ou Detroit. É uma rede", afirma a dona do BPitch Control, atenta às novas tendências. "Quando conheço um DJ muito bom, convido-o para as festas do meu selo. Quero dar uma chance a todos para que lancem o seu material. Só tem que agradar aos meus ouvidos -e eles não conhecem restrições de gêneros", enfatiza a madrinha de novas promessas do selo como Sascha Funke, Paul Kalkbrenner, Modeselektor e Housemeister.
E o que tocará hoje? "Não sei ao certo. "Klangscape" é uma boa definição para descrevê-lo. Às vezes chamo de "hypnotic-elechtech". Mas prometo agitar o público, estou muito feliz de estar no Brasil."
Na próxima terça-feira, Ellen Allien e o Laub apresentam-se em São Paulo dentro do festival Hype, no Sesc Pompéia.



Texto Anterior: Carlos Heitor Cony: Da arte de falar mal
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.