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BELO HORIZONTE - CURITIBA
Representante do novo "som de Berlim" mostra ao Brasil o seu "hypnotic-elechtech"
Revolução laptop
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Alemanha não gosta de olhar
para trás. Estrela principal dentro
da programação de hoje do festival mineiro Eletronika, a música
de vanguarda produzida em Berlim vem se reconstruindo e reaproveitando a cada minuto por
nomes como o do grupo Laub e
da inquietante DJ e produtora
Ellen Allien. SP os verá em breve.
Sim, o electro já passou por lá, o
tecno deu seus primeiros passos,
mas a nova "Klangscape" (algo
como paisagem sonora) alemã é
mais experimental ainda, nasce
mais das colagens em computador do que do trabalho nos pick-ups. ""Klangscape" é uma ótima
palavra para descrever o meu set.
Quando penso em "Klang", penso
em um som bem distante dos arranjos clássicos do tecno, com batidas mais quebradas e sons abstratos", comenta Allien, fundadora do selo BPitch Control, que
participa de palestra hoje, às 17h,
com Antje Greie-Fuchs, do selo
Kitty-Yo (Laub, Peaches et al).
Com apresentação marcada para mais tarde, às 21h, junto a nomes como o do inglês Brian Gee e
dos brasileiros Marky e Anderson
Noise, Allien estende a metáfora a
outras dimensões: "No que se refere à paisagem física, "Klangscape" vai mais longe ainda. Com a
música eletrônica, pela primeira
vez, o produtor pode se livrar da
restrição de ter de aprender um
instrumento por dez anos até poder tocá-lo. Com a revolução do
laptop, ganhamos um meio de expressão direto e simples", diz.
"Podemos desenhar uma paisagem audível, criando ondas e
montanhas usando harmonias
suaves e destruindo-as com batidas quebradas", filosofa.
Antes que a viagem assuste, vale
lembrar que "Berlinette", álbum
mais recente que Allien traz na
mala, é de fato o mais pop da carreira da produtora. ""Berlinette" é
algo como o meu diário definitivo. Todas as minhas influências e
experiências como DJ e produtora estão lá. Eu sou aberta a todos
os gêneros musicais. O hip hop
mudou a minha vida tanto quanto o tecno. Quando surgiu, era a
primeira revolução na cultura jovem em 20 anos", diz ela, que recentemente trabalhou com figurões do novo electro como Miss
Kittin, Sven Vath e The Hacker.
E como anda o namoro de Berlim e o electro? "No começo era
divertido tocar músicas que lembrassem nossa infância. Mas, depois de meio ano, todos se cansaram. Não há nada de novo nisso.
Ainda se ouve nos clubes, mas
mais como um truque. Se o público não estiver muito eufórico você toca "1982" da Miss Kittin e a
pista ferve. É isso."
O dito "som de Berlim", na opinião de Allien, resulta de um
amálgama das diferentes variáveis musicais que invadiram a cidade após a queda do Muro: o hip
hop, a house, o tecno, a IDM...
"Eu jamais separaria o "som de
Berlim" da evolução da música
eletrônica. Não posso isolá-lo do
som de Colônia ou Detroit. É uma
rede", afirma a dona do BPitch
Control, atenta às novas tendências. "Quando conheço um DJ
muito bom, convido-o para as
festas do meu selo. Quero dar
uma chance a todos para que lancem o seu material. Só tem que
agradar aos meus ouvidos -e
eles não conhecem restrições de
gêneros", enfatiza a madrinha de
novas promessas do selo como
Sascha Funke, Paul Kalkbrenner,
Modeselektor e Housemeister.
E o que tocará hoje? "Não sei ao
certo. "Klangscape" é uma boa definição para descrevê-lo. Às vezes
chamo de "hypnotic-elechtech".
Mas prometo agitar o público, estou muito feliz de estar no Brasil."
Na próxima terça-feira, Ellen
Allien e o Laub apresentam-se em
São Paulo dentro do festival
Hype, no Sesc Pompéia.
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