São Paulo, sábado, 02 de maio de 2009

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LIVROS

Crítica/ "Europa na Guerra", "Stálin, os Nazistas e o Ocidente" e "Os Três Grandes"

Obras são painel amplo da 2ª Guerra

Na esteira dos 70 anos do início do conflito, livros incorporam dados obtidos com a abertura dos arquivos soviéticos

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Editoras brasileiras aproveitam a recente enxurrada de livros em língua inglesa sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para colocar no mercado vários títulos sobre o tema. A produção original, na esteira dos 60 anos do fim do conflito, em 2005, coincide, nas traduções, com os 70 anos do início das hostilidades, em setembro.
Três dos trabalhos que mais se destacam têm em comum a incorporação de informações obtidas com a abertura dos arquivos soviéticos. Anteriormente usadas em biografias de Josef Stálin, nas quais o líder comunista emerge como monstro sanguinário, as revelações dos anos 90 ajudam na reinterpretação da guerra da qual ele foi um protagonista.
Em "Stálin, os Nazistas e o Ocidente", Laurence Rees faz acusações aos líderes das democracias liberais dos Aliados. Para agradar Stálin, Inglaterra e EUA maquiaram o comunista, endossando a propaganda que encobria fatos desconfortáveis para a URSS, como o massacre da elite polonesa.
A vitória sobre Hitler, portanto, estaria associada a ações moralmente condenáveis. E talvez desnecessárias. Rees argumenta que, dada a penúria soviética, uma pressão maior sobre Stálin poderia ter sido igualmente eficaz para mantê-lo ao lado das democracias. Produtor de programas sobre história da BBC, Rees tem um texto ágil, mas o resultado é um livro híbrido, que oscila entre o foco fechado em questões pontuais e grandes análises.

Bastidores
"Os Três Grandes", de Jonathan Fenby, tem recorte mais nítido, centrado nos bastidores dos contatos entre o britânico Winston Churchill, o americano Franklin Roosevelt e Stálin. Há muita vodca, charutos e anedotas, mas o autor não perde o fio interpretativo. Não há informações novas, nem o enfoque é original, mas se trata de uma história bem contada.
Um exemplo da narrativa eficiente são os cortes cinematográficos para mostrar como os líderes reagiram ao ataque japonês de Pearl Harbor, em dezembro de 1941, que jogou os EUA na guerra. Churchill foi dormir tranquilo, Stálin desconfiou de uma armação para envolvê-lo na guerra do Pacífico e o abstêmio Hitler tomou uma taça de champanhe.
Mais ambicioso é "Guerra na Europa", de Norman Davies. O britânico defende a tese de que a percepção popular sobre a guerra está distorcida por narrativas que buscam inflar o papel de cada um dos vencedores. Nessa linha, argumenta que o centro de gravidade do conflito foi a frente oriental, não a ocidental. A tese é antiga, e apoiada em número de mortos -11 milhões de soviéticos em comparação a 144 mil britânicos e outros tantos americanos.
A questão é que, ao enfatizar as batalhas no leste europeu, Davies subestimou as travadas na Europa ocidental. O desequilíbrio persistiu, só que com sinal trocado. O maior problema do livro, porém, é exagerar a visão distorcida sobre a guerra para valorizar a própria análise.
O maniqueísmo é mais comum em Hollywood (que merece um capítulo) do que em livros de historiadores.
Nenhum dos três livros é sensacional, mas as abordagens complementares oferecem, apesar das deficiências, um painel abrangente da guerra.

OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "Folha Explica Roberto Carlos" e "A Aventura do Dinheiro", entre outros.


EUROPA NA GUERRA (1939-1945): UMA VITÓRIA NADA SIMPLES

Autor: Norman Davies
Tradutor: Vitor Paolozzi
Editora: Record
Quanto: R$ 72 (602 págs.)
Avaliação: regular

STÁLIN, OS NAZISTAS E O OCIDENTE: A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ENTRE QUATRO PAREDES

Autor: Laurence Rees
Tradutor: Luis Fragoso
Editora: Larousse
Quanto: R$ 69,90 (568 págs.)
Avaliação: regular

OS TRÊS GRANDES: CHURCHILL, ROOSEVELT E STÁLIN GANHARAM UMA GUERRA E COMEÇARAM OUTRA

Autor: Jonathan Fenby
Tradutor: Gleuber Vieira
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 89,90 (488 págs)
Avaliação: bom




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