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LIVROS
Crítica/ "Europa na Guerra", "Stálin, os Nazistas e o Ocidente" e "Os Três Grandes"
Obras são painel amplo da 2ª Guerra
Na esteira dos 70 anos do início do conflito, livros incorporam dados obtidos com a abertura dos arquivos soviéticos
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Editoras brasileiras
aproveitam a recente
enxurrada de livros em
língua inglesa sobre a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945)
para colocar no mercado vários
títulos sobre o tema. A produção original, na esteira dos 60
anos do fim do conflito, em
2005, coincide, nas traduções,
com os 70 anos do início das
hostilidades, em setembro.
Três dos trabalhos que mais
se destacam têm em comum a
incorporação de informações
obtidas com a abertura dos arquivos soviéticos. Anteriormente usadas em biografias de
Josef Stálin, nas quais o líder
comunista emerge como
monstro sanguinário, as revelações dos anos 90 ajudam na
reinterpretação da guerra da
qual ele foi um protagonista.
Em "Stálin, os Nazistas e o
Ocidente", Laurence Rees faz
acusações aos líderes das democracias liberais dos Aliados.
Para agradar Stálin, Inglaterra
e EUA maquiaram o comunista, endossando a propaganda
que encobria fatos desconfortáveis para a URSS, como o
massacre da elite polonesa.
A vitória sobre Hitler, portanto, estaria associada a ações
moralmente condenáveis. E
talvez desnecessárias. Rees argumenta que, dada a penúria
soviética, uma pressão maior
sobre Stálin poderia ter sido
igualmente eficaz para mantê-lo ao lado das democracias.
Produtor de programas sobre história da BBC, Rees tem
um texto ágil, mas o resultado é
um livro híbrido, que oscila entre o foco fechado em questões
pontuais e grandes análises.
Bastidores
"Os Três Grandes", de Jonathan Fenby, tem recorte mais
nítido, centrado nos bastidores
dos contatos entre o britânico
Winston Churchill, o americano Franklin Roosevelt e Stálin.
Há muita vodca, charutos e
anedotas, mas o autor não perde o fio interpretativo. Não há
informações novas, nem o enfoque é original, mas se trata de
uma história bem contada.
Um exemplo da narrativa eficiente são os cortes cinematográficos para mostrar como os
líderes reagiram ao ataque japonês de Pearl Harbor, em dezembro de 1941, que jogou os
EUA na guerra. Churchill foi
dormir tranquilo, Stálin desconfiou de uma armação para
envolvê-lo na guerra do Pacífico e o abstêmio Hitler tomou
uma taça de champanhe.
Mais ambicioso é "Guerra na
Europa", de Norman Davies. O
britânico defende a tese de que
a percepção popular sobre a
guerra está distorcida por narrativas que buscam inflar o papel de cada um dos vencedores.
Nessa linha, argumenta que o
centro de gravidade do conflito
foi a frente oriental, não a ocidental. A tese é antiga, e apoiada em número de mortos -11
milhões de soviéticos em comparação a 144 mil britânicos e
outros tantos americanos.
A questão é que, ao enfatizar
as batalhas no leste europeu,
Davies subestimou as travadas
na Europa ocidental. O desequilíbrio persistiu, só que com
sinal trocado. O maior problema do livro, porém, é exagerar a
visão distorcida sobre a guerra
para valorizar a própria análise.
O maniqueísmo é mais comum
em Hollywood (que merece um
capítulo) do que em livros de
historiadores.
Nenhum dos três livros é
sensacional, mas as abordagens
complementares oferecem,
apesar das deficiências, um painel abrangente da guerra.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "Folha Explica Roberto Carlos" e "A Aventura do Dinheiro", entre outros.
EUROPA NA GUERRA (1939-1945): UMA VITÓRIA NADA SIMPLES
Autor: Norman Davies
Tradutor: Vitor Paolozzi
Editora: Record
Quanto: R$ 72 (602 págs.)
Avaliação: regular
STÁLIN, OS NAZISTAS E O OCIDENTE: A SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL ENTRE QUATRO PAREDES
Autor: Laurence Rees
Tradutor: Luis Fragoso
Editora: Larousse
Quanto: R$ 69,90 (568 págs.)
Avaliação: regular
OS TRÊS GRANDES: CHURCHILL, ROOSEVELT E STÁLIN
GANHARAM UMA GUERRA E
COMEÇARAM OUTRA
Autor: Jonathan Fenby
Tradutor: Gleuber Vieira
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 89,90 (488 págs)
Avaliação: bom
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