São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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Filme mostra estorvos de um remake

Phil Rosenthal retrata a experiência de adaptar sua série "Everybody Loves Raymond" para a televisão russa

O americano, criador da série baseada em sua vida para o canal Sony, diz que pensava haver um humor universal

JOHN ANDERSON
DO "NEW YORK TIMES"

Ria e o mundo rirá junto, dizem. Phil Rosenthal não está muito certo disso. "Eu acreditava que havia verdades universais no humor, como no resto", diz Rosenthal, criador de "Everybody Loves Raymond", a sitcom parcialmente baseada em sua própria vida e família, enorme sucesso da CBS.
Ele admite, porém, que a lógica falha. "É sempre a lógica que nos mete nas frias", diz, com um leve sorriso.
"Enfrento o mesmo problema em casa, quando acho que a lógica deve prevalecer.
Ou com meus pais, como se nota no filme. Eles ainda não viram. Estou com medo."
O filme em questão, "Exporting Raymond" (Exportando Raymond)-escrito, dirigido e protagonizado por Rosenthal- relata seus esforços reais para promover "Os Voronins", a versão russa de sua série "As pessoas me olhavam atônitas", diz Rosenthal, falando da equipe de Moscou encarregada de "russificar" seu programa. "A vida real é terrível. Para quê mostrá-la?" "Eles entendem [a graça]", explicou Rosenthal enquanto tomávamos um "borsch" em um restaurante de Manhattan, "mas o único tipo de comédia televisiva que conheciam até então eram esquetes bem carregados".
Outras sitcoms americanas já tinham tido sucesso na Rússia -todas elas produzidas pela Sony, que decidiu então lançar "Raymond" lá.
"Na maioria das vezes, fazemos produções locais a partir de roteiros originais", contou Michael Lynton, presidente e executivo-chefe da Sony. ""The Nanny" fez tanto sucesso na Rússia que os cerca de cem episódios criados nos EUA terminaram, e foi preciso criar novos."
"The Nanny" fez sucesso lá mesmo com suas incoerências. "Eles fizeram questão de dizer que já não há mordomos", lembra Lynton.
"Everybody Loves Raymond" não tinha incongruências desse tipo. É sobre um homem e sua família, razão pela qual (como se vê no filme, que acaba de estrear nos EUA) Rosenthal ficou perplexo quando ele e seus colegas russos começaram a se desentender em relação aos roteiros e o elenco.
"Nem todos os países "entendem ou conseguem fazer humor", diz o escritor e especialista em comédia Andrew Horton, professor da Universidade de Oklahoma. Mesmo assim, diz, "Os Simpsons" e "Shrek" fazem sucesso em qualquer lugar.
"Chaplin e Buster Keaton vendiam mais que Eisenstein e outros cineastas russos na Rússia dos anos 1920." Programas sobre famílias quase sempre funcionam no exterior, observa Horton. O que nos remete às dificuldades de Phil Rosenthal.
"Dizem que os russos estão saindo de uma posição de humilhação, tendo perdido a Guerra Fria, e que a última coisa que querem é que um americano lhes diga o que fazer", explica Rosenthal."
"Exporting Raymond" não é um filme sobre um fracasso. Longe disso: "Os Voronins" se saiu muito bem na rede russa CTC, onde começou a ser exibido em 2009, e a Sony acaba de vender versões locais à Polônia e a Israel. Mas é possível que a fonte esteja começando a secar. "Esses mercados estão se sofisticando", explica Lynton, "e começam a criar suas próprias sitcoms. Não sei se sitcoms americanas ainda são relevantes para eles."
Tradução de CLARA ALLAIN


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