São Paulo, sábado, 02 de junho de 2001

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"HOTEL HONOLULU"

Obra do americano Paul Theroux desvela tramas no Havaí

Hospedagem abriga desgraças e desolo da condição humana

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há nada mais erótico do que um quarto de hotel, assim como parece não existir espaço tão propício ao crime. Num hotel turístico, as pessoas estão expostas, suas defesas abaixadas, e seus lixos, muitas vezes cheios de segredos, são manuseados por desconhecidos. Acreditando nisso, o americano Paul Theroux montou seu posto de observação num imaginário hotel do Havaí.
"Hotel Honolulu", seu mais recente romance, obedece à curiosa estrutura de uma típica hospedagem de turismo. O livro possui 80 capítulos, que correspondem a cada um dos 80 quartos do hotel Honolulu, uma decadente hospedagem em Waikiki que atrai tipos díspares -mas emblemáticos- da elite americana, turistas excêntricos e residentes caprichosos.
As 80 pequenas tramas têm em comum o fato de compartilharem o desolado, porém arguto, olhar do gerente do estabelecimento, também narrador da história.
Esse homem -alter ego de Theroux- é um escritor que, frustrado com a literatura, refugia-se no Havaí, onde não o conheçam, nem a seus livros.
Ele passa a gerenciar o hotel Honolulu e mergulha no dia-a-dia dos hóspedes e funcionários. Cada historieta, com desfecho inesperado, é um compartimento do fragmentado romance. Com a observação de tipos caricaturais, esquisitos e deslocados, compõe um retrato sarcástico da sociedade, e desolador da raça humana.
Surgem personagens como Madam Ma, residente do hotel que tem uma coluna social num jornal local. Dedica-se às futilidades de uma agenda de pequenos vernissages e participa de um triângulo amoroso com o filho homossexual e seu namorado. Ligação explosiva, em que incesto, traição e morte estão presentes.
Há a história do par de garçons mancos -um do pé esquerdo e o outro do direito. Num deles falta ousadia, no outro, sobra. Na tentativa de conquistar uma estrangeira, ambos acabam sendo vítimas do que imaginam ser mutilações de seu caráter.
Em outro capítulo, um pai de família em férias prepara-se para um mergulho, quando um garoto lhe pede para reencontrar um chaveiro perdido na água. O velho hesita, mas ajuda a criança. No mergulho, corta-se. A ferida gangrena, e a desgraça toma sua vida.
A vida do narrador também é parte desse laboratório. Ele cai de amores pela filha de uma prostituta local. Descobre-se depois que a garota é fruto de uma noite que o ex-presidente JFK passou, anônimo, com a prostituta, no hotel.
No livro, Theroux expõe a si mesmo, em mais uma tentativa de escrever uma maquiada autobiografia. Ele já tentara no divertido "Minha Outra Vida" (98), com relatos de viagem e memórias afetivas misturados à ficção.
Theroux notabilizou-se por seus romances de viagem. Sua pena já visitou a China, a América Central e a do Sul, a Inglaterra, a África e outros. Há alguns anos, Theroux refugiou-se no Havaí, onde vive parte do ano e escreve.
Em entrevista ao jornal inglês "The Guardian", Theroux disse que o narrador de "Hotel Honolulu" foi criado para exorcizar um medo que o escritor carrega consigo: o de, de repente, não conseguir mais escrever e ter de dedicar-se a outra atividade -por exemplo, gerenciar um hotel. Medo infundado, "Hotel Honolulu" é um de seus melhores livros.

Hotel Honolulu
Hotel Honolulu
    
Autor: Paul Theroux
Editora: Houghton Mifflin, 2001 (www.houghtonmifflinbooks.com)
Quanto: US$ 20,80 (424 págs.), importado
Onde encomendar: www.amazon.com, www.livcultura.com.br



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