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LIVROS/LANÇAMENTOS
"HOTEL HONOLULU"
Obra do americano Paul Theroux desvela tramas no Havaí
Hospedagem abriga desgraças e desolo da condição humana
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há nada mais erótico do
que um quarto de hotel, assim como parece não existir espaço tão propício ao crime. Num
hotel turístico, as pessoas estão
expostas, suas defesas abaixadas,
e seus lixos, muitas vezes cheios
de segredos, são manuseados por
desconhecidos. Acreditando nisso, o americano Paul Theroux
montou seu posto de observação
num imaginário hotel do Havaí.
"Hotel Honolulu", seu mais recente romance, obedece à curiosa
estrutura de uma típica hospedagem de turismo. O livro possui 80
capítulos, que correspondem a
cada um dos 80 quartos do hotel
Honolulu, uma decadente hospedagem em Waikiki que atrai tipos
díspares -mas emblemáticos-
da elite americana, turistas excêntricos e residentes caprichosos.
As 80 pequenas tramas têm em
comum o fato de compartilharem
o desolado, porém arguto, olhar
do gerente do estabelecimento,
também narrador da história.
Esse homem -alter ego de
Theroux- é um escritor que,
frustrado com a literatura, refugia-se no Havaí, onde não o conheçam, nem a seus livros.
Ele passa a gerenciar o hotel Honolulu e mergulha no dia-a-dia
dos hóspedes e funcionários. Cada historieta, com desfecho inesperado, é um compartimento do
fragmentado romance. Com a observação de tipos caricaturais, esquisitos e deslocados, compõe
um retrato sarcástico da sociedade, e desolador da raça humana.
Surgem personagens como Madam Ma, residente do hotel que
tem uma coluna social num jornal
local. Dedica-se às futilidades de
uma agenda de pequenos vernissages e participa de um triângulo
amoroso com o filho homossexual e seu namorado. Ligação explosiva, em que incesto, traição e
morte estão presentes.
Há a história do par de garçons
mancos -um do pé esquerdo e o
outro do direito. Num deles falta
ousadia, no outro, sobra. Na tentativa de conquistar uma estrangeira, ambos acabam sendo vítimas do que imaginam ser mutilações de seu caráter.
Em outro capítulo, um pai de família em férias prepara-se para
um mergulho, quando um garoto
lhe pede para reencontrar um
chaveiro perdido na água. O velho
hesita, mas ajuda a criança. No
mergulho, corta-se. A ferida gangrena, e a desgraça toma sua vida.
A vida do narrador também é
parte desse laboratório. Ele cai de
amores pela filha de uma prostituta local. Descobre-se depois que
a garota é fruto de uma noite que
o ex-presidente JFK passou, anônimo, com a prostituta, no hotel.
No livro, Theroux expõe a si
mesmo, em mais uma tentativa
de escrever uma maquiada autobiografia. Ele já tentara no divertido "Minha Outra Vida" (98), com
relatos de viagem e memórias afetivas misturados à ficção.
Theroux notabilizou-se por
seus romances de viagem. Sua pena já visitou a China, a América
Central e a do Sul, a Inglaterra, a
África e outros. Há alguns anos,
Theroux refugiou-se no Havaí,
onde vive parte do ano e escreve.
Em entrevista ao jornal inglês
"The Guardian", Theroux disse
que o narrador de "Hotel Honolulu" foi criado para exorcizar um
medo que o escritor carrega consigo: o de, de repente, não conseguir mais escrever e ter de dedicar-se a outra atividade -por
exemplo, gerenciar um hotel. Medo infundado, "Hotel Honolulu"
é um de seus melhores livros.
Hotel Honolulu
Hotel Honolulu
Autor: Paul Theroux
Editora: Houghton Mifflin, 2001
(www.houghtonmifflinbooks.com)
Quanto: US$ 20,80 (424 págs.),
importado
Onde encomendar: www.amazon.com,
www.livcultura.com.br
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