São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Crítica/MPB

Bebeto Castilho encanta em CD histórico

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Já faz 30 anos que Bebeto Castilho lançou seu primeiro disco como cantor. Relançado em CD na Inglaterra, é desconhecido por aqui. Agora, enfim, o ex-baixista do fundamental Tamba Trio, grande flautista e cantor único pode mostrar por que tem fãs como Milton Nascimento e Caetano Veloso. "O canto cool tem nele o exemplo mais perfeito que se possa imaginar", escreve Caetano no encarte do CD. Bebeto, 67, é um bossanovista que não tem vergonha de atribuir a paternidade de seu estilo de cantar a Chet Baker -a mãe seria Chris Connor. Só que a voz suave, afinadíssima mas sem impostação ou volteios, é aplicada em músicas de DNA brasileiro, em especial sambas, predominantes em "Amendoeira". "O Wilson das Neves foi meu habeas corpus de sambista", brinca ele, que é mais associado ao jazz e à bossa nova, referindo-se à participação do cantor-compositor-baterista em "Minha Palhoça" (J. Cascata). Sonho antigo de Bebeto, o CD se tornou realidade graças ao empenho de um roqueiro heterodoxo: seu sobrinho-neto Marcelo Camelo, do Los Hermanos. "Cantando, tocando flauta ou baixo, ele tem a mesma excelência. Mas, como pessoa emotiva, sua técnica é refém do coração", diz Camelo.
Melancolia
A faixa-título foi composta pelo sobrinho-neto especialmente para o CD. É uma bela canção, com a melancolia que Camelo acredita ser um ponto em comum entre o seu trabalho e o de Bebeto. Os dois cantam juntos em "Porta de Cinema", de Luiz Souza, que era irmão de Bebeto e avô de Camelo. O delicioso samba sincopado ("Eu não sou porta de cinema pra lhe dar cartaz") faz par com "Pode ser?", do craque Geraldo Pereira (com Marino Pinto). Dessa última, participa Thalma de Freitas, e em "Beijo Distraído" (Durval Ferreira/Regina Werneck) o belo dueto é com Nina Becker. São os flertes de Bebeto com a nova geração, contrabalançados com registros de antigas músicas como "A Vizinha do Lado" (Dorival Caymmi), "Sabiá de Mangueira" (Benedito Lacerda/Erastóstenes Frazão) -a melhor faixa do CD-, "Infidelidade" (Ataulfo Alves/Américo Seixas), transformada de sambão em samba cool, e "Cabelos Cor de Prata" (Silvio Caldas/Rogaciano Leite). "Essa música me marcou muito, porque eu imaginava a lua se esfarelando e caindo mesmo na cabeça dele [Silvio Caldas]. Sempre quis gravá-la", conta Bebeto. Esse toque afetivo marcou a escolha do repertório, conferindo às interpretações uma intimidade que é chave para a beleza do CD. "Amendoeira" é um disco histórico que, espera-se, possa dar origem a outros de Bebeto.


Amendoeira
    
Artista: Bebeto Castilho
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 32, em média



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