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Crítica/erudito
Osesp e Buosi revelam a música de John Corigliano
ARTICULISTA DA FOLHA
O compositor John Corigliano (1938) está em
São Paulo desde o início da semana, acompanhando
os ensaios de três peças que a
Osesp tocou quinta-feira, repetiu ontem e toca hoje à tarde na
Sala São Paulo. Mesmo para
um compositor de tamanho renome -por consenso, um dos
mestres da música norte-americana do último quarto de século-, a ocasião é especial: uma
noite inteira dedicada à música
de um autor vivo.
Regida por John Neschling,
a Osesp abriu o programa
com "Torneios" (1966), um
exercício virtuosístico de cores
e conjuntos, em que os instrumentos se digladiam num torneio de naipes.
Na seqüência, o primeiro
clarinete da orquestra, Ovanir
Buosi, foi o solista no "Concerto para Clarinete" (1977), com
a Osesp regida por Victor
Hugo Toro. O "Concerto" começa com uma cadência do
clarinete, saindo do nada e esquiando no ar. Dali para a frente, são muitas cadências, extraordinariamente difíceis, entremeadas de explosões da
orquestra.
O segundo movimento é uma
elegia em homenagem ao pai
do compositor, que foi "spalla"
da Filarmônica de Nova York.
A tocata final inclui trompas,
trompetes e clarinetes espalhados pelo auditório, com o solista entre tímpanos estereofônicos. Ovanir foi aclamado como
raramente se viu.
A trovoada dos tímpanos
era pouco, comparado ao que
viria, na "Sinfonia nš 1". Rica
de alusões, a "Sinfonia" foi escrita para comemorar amigos
perdidos pela Aids. Guarda
não só a memória dessas vidas
mas de toda uma época, estranha e dura.
Foi um programa e tanto, e a
idéia deveria virar hábito: uma
vez por ano, uma noite com um
compositor do nosso tempo. A
Osesp tem vocação para a música dos séculos 20 e 21. A platéia pode até estranhar; mas é a
sua cara, no espelho, e tem muito a revelar.
(AN)
AVALIAÇÃO: ótimo
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