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música
"Cultura é um produto, como uma laranja", diz Gil
Ex-ministro do governo Lula, cantor retoma temas de baião e festa junina
Gil diz que pediu licença
para apoiar Marina
Silva e afirma: "tem
áreas do PV que não são
flor que se cheire"
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
Gilberto Gil se reconciliou
com sua voz. Passou por problemas vocais, provocados
pela fala, durante seu período como ministro da Cultura,
e teve que lidar com isso. Baixou os tons e lança agora "Fé
na Festa", focando as comemorações juninas.
Folha - Algumas músicas do
disco não são exatamente juninas. Foram adaptadas?
Gilberto Gil - Exatamente.
Estava fazendo canções para
o disco e pedi letras para amigos, como Arnaldo Antunes,
Paulo Coelho, Dominguinhos. Mas elas não chegaram. Então passei a compor
sozinho. Estava na Bahia e,
na Quarta-Feira de Cinzas,
fui visitar Rogério Duarte,
que está com câncer. E me
pediu para tocar "Não Tenho
Medo da Morte". Ficou emocionado. Eu disse que a morte era complicada, mas a vida
também é. Ele me pediu que
escrevesse uma canção-espelho, "Não Tenho Medo da
Vida". Embora não seja junina, a música é nordestina.
Esse disco remete a "Eu Tu
Eles" (2000), um estouro popular. A expectativa é reconciliar Gilberto Gil com os hits?
Não, não, não. Aquele estouro todo foi porque foi.
Nunca tive faro para sucesso.
Mas faz sentido, porque essa
reintrodução é feita a partir
do meu mundo infantil. Minha Disneylândia é o Luiz
Gonzaga, a festa junina. Pode ser uma retomada.
Você teve problemas vocais e
foi em busca de um modo de
cantar que se adequasse à nova voz. Como foi o processo?
O problema foi o uso falado da voz na época do ministério. E eu cantava muito alto. Tive de manter exercícios
diários de fonoterapia.
Juca Ferreira, filiado ao PV,
teve problemas com o partido
quando declarou apoio à Dilma. O que pensou disso?
Acho bobagem. Achei bonito o gesto do Juca pedindo
licença. É como eu pedir licença ao Lula para apoiar
Marina [Silva, do PV]. A educação na política requer coisas assim. Juca é ministro.
Entende o que é a necessidade de um apoio ao Lula nestas eleições. Além do mais,
tem desavenças com partes
do PV. Tem áreas do PV que
não são flor que se cheire.
Você chegou a elogiar a Dilma, dizendo que era uma
"mulher macho"...
Isso foi quando ela foi para
a Casa Civil. Teve uma performance macho para lidar com
os políticos. A coisa de ser a
antessala, a interlocução.
Quem seriam prováveis futuros ministros da Cultura?
Sei lá. Essa coisa de ministro é muito a oportunidade, a
pessoa estar disposta. Não é
questão de perfil. Cultura é
um produto, como uma laranja, resultado de trabalho
de laboratório.
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