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"ADANGGAMAN"
Diretor africano adiciona matizes ao retrato da escravidão negra
DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
"Adanggaman" mostra
do que se ocupará desde a
primeira cena: um homem negro
é aprisionado, silenciado por
amarras de ferro, tornado coisa,
coberto por uma rede como um
dos peixes que costumava pescar
em sua aldeia. As mãos que o detêm e que o condenam a uma vida
de humilhações são -também
elas- negras.
É o século 17 e claramente é de
escravidão que o marfinense Roger Gnoan M'Bala quer falar, sem
perda de tempo. Ele chega aqui ao
seu quinto longa numa trajetória
pontuada por narrativas mais leves e satíricas. "Adanggaman" representa uma mudança nesse caminho. Não há sorriso possível.
O filme pôs M'Bala no centro de
interpretações de que seu longa se
trataria ora de instrumento para
enfraquecer a luta dos negros
(leia-se "afro-americanos") por
reparações financeiras pela escravidão, ora como chamado para
que a servidão africana seja entendida como fruto de ambições
brancas, mas também negras.
O diretor retoma trilha aberta
há mais de 20 anos por cineastas
como o senegalês Ousemane
Sembene, que em "Ceddo" (1977)
já apresentava africanos e europeus como sócios no funesto negócio do tráfico.
Em "Adanggaman", o jovem
Ossei se nega a cumprir ordem do
pai para que se case com a escolhida da família. Foge de sua aldeia, a
tempo, porém, de assistir à invasão do povoado e à morte de familiares pelo rei Adanggaman,
que torna escravos os sobreviventes. Os guerreiros do invasor são
amazonas que chicoteiam os prisioneiros e os chamam de "bestas
fedorentas", "sujos", "macacos".
A visão é assustadoramente familiar -é mais ou menos como
ver policiais, muitas vezes negros,
achacando jovens negros nas ruas
brasileiras porque "suspeitosamente" dirigem carros de luxo.
Se é notável a eloqüência de
idéias de seu filme, M'Bala não se
presta contudo à tolice de relativizar o futuro miserável que o tráfico reservou à África.
O que faz é introduzir vistosas
pinceladas de cinza no retrato da
escravidão, assunto que, ao menos no cinema, costuma ser tratado apenas na contraposição entre
o branco e o negro.
Adanggaman
Idem
Direção: Roger Gnoan M'Bala
Produção: Costa do Marfim/França/Itália, 1998
Com: Rasmane Ouedraogo
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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