São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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POP BRASILEIRO NO FINAL DOS 90
Duo Tetine faz música de 1998 em 1998

da Reportagem Local

Na ponta oposta ao "rock regressivo" de Júpiter Maçã, a dupla radicada em São Paulo Tetine persegue a linguagem dos 90 -ou dos 2000- na trilha da eletrônica. Lançam, em esquema independente, o segundo CD, "Creme".
Trata-se da trilha sonora do espetáculo de dança homônimo levado pela companhia mineira de dança Ur=HOr, de Adriana Banana, ex-integrante do grupo Dança Burra. E não deixa, segundo o guitarrista, baixista, tecladista e vocalista Bruno Verner, 27, e a vocalista e tecladista Eliete Mejorado, 30, de ser um trabalho autoral.
Bruno é músico profissional nascido em Belo Horizonte, onde, nos 80, integrou as bandas Divergência Socialista e R.Mutt. "Vim para São Paulo estudar linguística e fiquei. Abandonei a linguística, mas é o que está mais acoplado no meu trabalho musical."
Eliete, paulistana, tem formação de atriz. "Não me enquadrava no teatro, o que eu via não era o que queria. Fui para o Rio tentar a Globo, morei com duas modelos que faziam "Pátria Minha' e me achavam angulosa. Não rolou."
Acabaram se reunindo ao participar -ele fazendo a trilha e ela como atriz- da peça "Ópera Urbana Zucco". Hoje, são casados.
Daí surgiu a pareceria e o primeiro CD, "Alexander's Grave". "Ninguém entendeu nada. Só depois que participamos do festival Babel, em que fizemos do jeito que tinha que ser, as pessoas começaram a ver que não era uma coisa doida, que não era qualquer nota. Era o resultado do vômito, a saída da clausura", interpreta Eliete.
Como definem Tetine (teta, em francês)? "Somos um grupo de música eletrônica que não se encaixa no tecno, como muitos pensam. Não somos clubbers", afirma Bruno. "Somos um grupo de risco. É tudo por um triz, arriscado, camicase", emenda Eliete.
A questão de linguagem -musical ou textual- é de honra para a dupla. Não raro, as músicas são declamadas, autobiográficas ("com uma pitada de ficção, que ninguém é de ferro") e tratam de temas como incesto e estupro.
"Tenho uma doença que preciso transmitir, de ter que dizer o que digo para não ficar louca. É um trabalho político", diz Eliete.
Paradoxalmente, quase tudo é dito em inglês. "Não é um problema de medo de exposição, é questão de linguagem mesmo. Estamos falando da dificuldade de se comunicar", afirma Bruno. Num círculo de paradoxo, não têm gravadora no Brasil e costumam escoar melhor seus CDs na Europa.
Já preparam o terceiro CD, que deverá se chamar "Música de Amor". "Queremos tratar do amor de todas as formas, até a mais brega -mas de forma seríssima", finaliza Bruno. (PAS)



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