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ARTES PLÁSTICAS
Cerca de 300 obras do artista estão expostas
MoMA faz a revolução segundo Rodchenko
AMIR LABAKI
de Nova York
O artista russo Aleksandr Rodchenko (1891-1956) costumava fazer piada com o próprio sobrenome para sua única filha, Varvara.
Dizia estar condenado à criação, a
"dar vida", pela presença do prefixo "rod", que aparece nas palavras russas para "nascimento" e
"parir".
O resultado dessa "maldição",
um dos legados artísticos mais variados e originais deste século, está
resumido na mostra aberta no último final de semana no Museu de
Arte Moderna de Nova York.
Até 6 de outubro, estarão ali reunidas cerca de 300 obras de Rodchenko, no maior esforço já feito
para apresentar suas facetas.
Lá estão o Rodchenko pintor, escultor, design, artista gráfico e fotógrafo. Falta o figurinista e cenógrafo de teatro e cinema. Não dá
para ter tudo. Depois de Nova
York, a exposição passa por Dusseldorf (Alemanha) e Estocolmo
(Suécia).
Rodchenko levou ao pé da letra a
utopia de artista revolucionário.
Filho de um zelador de teatro e de
uma lavadeira, nasceu na inquieta
São Petersburgo, mas foi criado na
pacata Kazan, desenvolvendo ali
seus primeiros estudos artísticos.
Ao mudar-se para Moscou, em
meados de 1915, adaptava-se logo
ao turbilhão estético que acompanhava a turbulência social.
A Revolução Socialista de 1917
catalisou em sua primeira década
um movimento de radicalização
estética de raros paralelos na história. O projeto de formação de
uma nova sociedade reivindicava
o estabelecimento de um novo homem. Para tanto, exigia-se o desenvolvimento de uma arte também nova, mais próxima da vida,
distante da tradição anterior.
Redefinir o papel do artista como agente social nesse novo contexto foi o grande desafio de toda
uma geração de criadores, que logo encontraria em Rodchenko um
de seus principais líderes.
De maneira didática, a exposição
abre com um breve preâmbulo,
que contextualiza o momento artístico em que Rodchenko se lançou. Numa ante-sala, encontram-se exemplos de obras de Kasimir Malevich (1878-1935) e Vladimir Tatlin (1885-1953), as duas
principais influências iniciais de
Rodchenko. Datadas dos anos 10,
trazem pesquisas pioneiras na arte
abstrata ou não-figurativa.
Em Tatlin, Rodchenko vai se inspirar para o estudo de texturas e
planos. Com Malevich, a relação
evoluiu do diálogo ao confronto.
Rodchenko assimila o jogo com
planos coloridos independentes
de Malevich e depois o depura
num estilo minimalista.
Vai além. Em 1913, Malevich
pintava o célebre "Quadrado Negro" e, em 1918, "Branco sobre
Branco". São as telas-síntese do
suprematismo, escola baseada em
formas geométricas, empenhada,
segundo seu líder, na "supremacia da sensação pura".
A resposta de Rodchenko não
tardou, por meio da série "Preto
sobre Preto" -com o negro
opondo-se à relação simbolista do
branco com o absoluto. A bandeira do construtivismo está desfraldada: a autonomia da pintura
frente à figuração, a independência da tela como objeto, a ênfase
no caráter técnico da arte, com o
elogio do artista-engenheiro
("precisão da construção", prega
o artista), tratando cada criação
como um "experimento" que dá
sequência à pesquisa.
A radicalização do movimento
vai defender uma arte pragmática
e dissolvida na cultura de massas.
O artista renunciava aos particularismos individualistas e apostava
na atuação como grupo. Era a nova arte exigida pela construção de
um novo mundo (o socialista). A
utopia ainda não havia sido esmagada por Stálin.
Não surpreende, assim, que em
1921 Rodchenko, depois de suas
pesquisas com formas, planos,
texturas e linhas (nestas, inspirado
em Kandinsky), decrete a "morte
da pintura" com três estudos de
cores: "Puro Vermelho", "Puro
Amarelo" e "Puro Azul". Escreveria o artista anos depois: "Reduzi a pintura à sua conclusão lógica (...). Afirmei: está tudo acabado. Cores básicas. Todo plano é
um plano, e não deve haver qualquer representação".
Durante a década e meia seguinte, Rodchenko consideraria concluída sua pesquisa como pintor.
A nova arte não podia mais restringir-se aos limites do quadro
assim como o novo artista devia
libertar-se do cotidiano no estúdio.
Em vez de voltar à escultura, na
qual se exercitara nos anos anteriores, sobretudo na busca de
composições tridimensionais a
partir de elementos planos (Composições Espaciais), Rodchenko
opta por trabalhar para um público mais amplo, abraçando os
meios de reprodução mecânica.
Seria designer e artista gráfico,
mas sua maior paixão passa a ser a
fotografia.
Ao exercitar-se nesses outros
meios, Rodchenko continuaria fiel
a suas pesquisas de artista plástico.
A estruturação em diagonal, visando frisar o dinamismo da composição e o recurso à serialização,
continuou marcando presença em
seus pôsteres, colagens e fotos.
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