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TEATRO
Grupo de 13 índios estreou peça em Lagoa da Traição e pretende levar espetáculo a outras tribos e a João Pessoa
Índios potiguares sobem ao palco na PB
KAMILA FERNANDES
da Agência Folha
Representar, sobre um palco,
personagens cuja cultura e vida
lhes são completamente estranhas,
desconhecidas. Esse é o desafio de
13 índios potiguares da aldeia do
Galego, na Paraíba.
Eles formaram um grupo de teatro, o Akajutibiró (antigo nome da
cidade paraibana de Baía da Traição), e pretendem sair em turnê
pela Paraíba, para mostrar suas
atuações em peças teatrais.
A inusitada estréia dos indígenas
aconteceu nos dias 19 e 20 de junho, com a apresentação de "Pequenas Peças", uma montagem de
seis trechos de peças teatrais com
temas urbanos, em um clube no
município de Baía da Traição (cidade de 6.000 habitantes que fica a
80 km de João Pessoa).
Os aplausos e as interferências da
platéia durante a apresentação assustaram os índios.
"Eles nem acreditavam em tudo
o que estava acontecendo", afirma
o diretor do grupo, Omar Brito.
A índia Potira Tani protagonizou
"Corações Guerreiros", de Marcelo Farias Costa. Robin Marley está
à frente de outra peça, "A Procissão de Çairé", de João de Jesus Paes
Loureiro. Os autores são locais,
desconhecidos do meio teatral.
"Uma das atrizes, inclusive, nem
acreditou quando, depois de uma
apresentação, foram pedir autógrafos a ela", diz Brito.
Segundo o diretor -que, fora
dos palcos, é funcionário público e
trabalha há dez anos com teatro,
nas horas vagas- a idéia surgiu
entre os próprios índios que, no
início deste ano, demonstraram
interesse em aprender a arte.
"Eu frequentava a praia de Baía
da Traição e, um dia, eles me perguntaram se eu não poderia ensiná-los a representar."
Brito montou um curso nos fins-de-semana e foi até a aldeia dos potiguares durante três meses. No
encerramento, os índios criaram
uma montagem teatral.
"Eles iriam fazer a peça e tudo
pararia por aí. Mas depois eles começaram a gostar tanto que decidiram formar um grupo e encenar
em outros lugares", diz.
O primeiro passo é uma turnê
pelas terras indígenas da Paraíba,
no mês de julho. Para o mês de
agosto, porém, os planos já são
mais ambiciosos, com apresentações em um teatro de João Pessoa,
capital paraibana.
"Eles têm uma dedicação muito
grande e realmente se apaixonaram pelo teatro. Tanto que dois deles foram para São Paulo tentar a
vida nos palcos", afirma o diretor.
Também para o próximo semestre, os índios potiguares planejam
montar uma peça sobre o descobrimento do Brasil sob o ponto de
vista deles mesmos.
"Esse será um trabalho importantíssimo, porque eles estão perdendo a própria cultura, já não sabem mais falar a língua nativa, não
cultivam mais as tradições indígenas. Com essa peça, eles irão fazer
pesquisas e terão um retorno às
próprias raízes", afirma Brito.
Na atual montagem, a única referência indígena aparece no início
da encenação, quando os integrantes do grupo dançam o toré, coreografia típica dos potiguares, em
uma espécie de aquecimento.
Até o nome artístico escolhido
por alguns deles está longe de lembrar o de seus ancestrais; com exceção de Potira Tani, os demais escolheram nomes internacionais,
como Marie e Ju Peter.
A UFPB (Universidade Federal
da Paraíba) cedeu a iluminação
para o espetáculo. O restante do
dinheiro para que a peça pudesse
ser apresentada saiu do bolso do
próprio diretor e dos alunos.
"É tudo muito simples, a peça
não tem cenário ou qualquer outro
tipo de objeto utilizado que tornasse os custos altos, mas, para o
transporte e todos os outros gastos, tivemos que contar apenas
com os nossos recursos."
Para a turnê em terras indígenas,
a Prefeitura de Baía da Traição se
propôs a ajudar com o transporte.
Para a ida a João Pessoa, ainda não
sabem se terão esse apoio.
"Recebemos uma "moção de
aplauso" oficial da Assembléia Legislativa do Estado pela nossa peça. Quem sabe os deputados não se
propõem a ajudar financeiramente também", diz Brito.
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