São Paulo, Segunda-feira, 02 de Agosto de 1999
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RELÂMPAGOS

Nata

JOÃO GILBERTO NOLL

Por anos servi de mãe para aquelas crianças que custavam a crescer, como se lhes faltasse crédito perante a natureza, é...! Eu, homem dado às artes, ia deixando escapar dia após dia aquilo que em língua afetada vê-se como inspiração, sim, deixando escapar porque uma hora era aquecer o leite, outra dar remédio, logo adiante ajudar nas lições. Foi então que comecei a me afastar deles, me transformando lentamente na mulher que eu sonhava ser: solitária, reclusa, morrendo aos poucos de um verso escuso que ia sorvendo a nata do meu peito, sem cessar.


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