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RELÂMPAGOS
Nata
JOÃO GILBERTO NOLL
Por anos servi de mãe para
aquelas crianças que custavam a crescer, como se lhes
faltasse crédito perante a natureza, é...! Eu, homem dado
às artes, ia deixando escapar
dia após dia aquilo que em
língua afetada vê-se como
inspiração, sim, deixando
escapar porque uma hora
era aquecer o leite, outra dar
remédio, logo adiante ajudar nas lições. Foi então que
comecei a me afastar deles,
me transformando lentamente na mulher que eu sonhava ser: solitária, reclusa,
morrendo aos poucos de um
verso escuso que ia sorvendo a nata do meu peito, sem
cessar.
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