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MÚSICA
Cantor paulista lança 41º álbum em 38 anos, enquanto continua a cumprir rotina de shows semanais Brasil afora
Jair lança novo disco em moto-contínuo
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 63 anos, o cantor paulista
Jair Rodrigues segue uma rotina
peculiar entre músicos que, como
ele, não ocupam mais vitrine de
frente na mídia. Lança agora, pela
Trama, o 41º disco de sua carreira,
enquanto mantém sextas, sábados e domingos de shows em moto-contínuo.
Segue um roteiro que se pode
dizer alternativo, mas que o põe
em contato com o "grande Brasil"
e lhe dá "por onde tirar dinheiro
para pagar as contas".
"O ritmo de que mais gosto é o
samba, mas segui o conselho que
me davam os mais antigos, como
Orlando Silva, Ataulfo Alves e Silvio Caldas, de que é importante
ser eclético. Não tenho problemas, sou chamado para festa de
seresta, de peão de boiadeiro, pagode, sambão, escola de samba,
aniversário de clube...", relata.
Talvez por isso privilegie a veia
de crooner eclético em "Intérprete", produzido por seu filho Jair
Oliveira, no qual unifica em seu
vozeirão sambas célebres, canção
de protesto, forró de Luiz Gonzaga e samba-rock.
Também possivelmente sob o
status de sobrevivente, sedimenta
no CD a tendência a mirar foco
em referências à grande galeria de
músicos que saíram do primeiro
plano do mercado musical.
Isso se dá na seleção de repertório, pela qual resgata Sérgio Ricardo ("Zelão"), Billy Blanco ("Banca do Distinto"), João Nogueira e
Paulo César Pinheiro ("Mineira",
em homenagem a Clara Nunes), e
por referências indiretas, quando
ressalta que "Meu Guarda-Chuva" foi composta por Jorge Ben
para ele, mas lançada pela cantora
de samba-rock Elizabeth Viana.
Transparece em parte da extensa lista de convidados -o histórico Jongo Trio que acompanhou a
dobradinha Jair/Elis Regina nos
60, o colega crooner José Domingos, até o neomaldito Lobão (em
"Incompatibilidade de Gênios",
de João Bosco e Aldir Blanc).
Jair diz que nada é de propósito,
e enfrenta a rixa atual de Lobão
com as gravadoras: "Vejo isso
acontecer desde Juca Chaves, que
foi o primeiro a lutar pela numeração e saiu bastante machucado
da história. Não pensei nesse lado
ao chamar Lobão, mas, se sua presença servir para eles esquecerem
um pouco esse outro lado, quem
vai ficar feliz sou eu".
Quanto à adesão tardia ao samba-rock, diz que gravou o gênero
quando o nome ainda nem existia, nos anos 60. ""Rapaz da Moda", de Evaldo Gouveia e Jair
Amorim, tinha esse estilo, e foi
um sucesso no programa "Jovem
Guarda", de Roberto Carlos."
Jair integrava com Elis a facção
bossa nova da TV dos anos 60 (no
programa "Fino da Bossa"), mas
diz que mesmo assim tinha livre
trânsito na frente iê-iê-iê. E diverge da história ao dar versão extramusical à disputa entre os adeptos
da MPB e a turma das guitarras:
"Uma vez era para Jorge Ben gravar o "Fino da Bossa", mas acho
que ele veio e gravou o "Jovem
Guarda" antes. Elis ficou chateada,
cancelou sua participação, deixou
ele na geladeira um tempo. Era
bem coisa de ciúme".
Hoje, Jair se diz surpreso com o
entusiasmo dos jovens por seus
proto-raps "Deixa Isso pra Lá" e
"Ziguezague" (regravada agora
com intervenções de Rappin
Hood, Simoninha e Jairzinho),
sentido em eventos como o "Rock
in Rio 3" e o recente VMB.
"Quando cheguei ao Credicard
Hall para a festa da MTV, fui muito mais aplaudido que a garotada.
Não sei qual é o segredo. Acho
que sempre procurei ser honesto,
na música ou na vida particular.
Não faz coisa errada, não, porque,
Nossa Senhora, aquela telinha
mostra tudo", encerra.
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