|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/CRÍTICA
Artista tira o pó do samba em "Intérprete"
DA REPORTAGEM LOCAL
O samba pontudo sempre foi
a casa de Jair Rodrigues, fosse nos momentos mais felizes (em
especial a fase samba-jazz dos 60)
ou nos menos certeiros (dos 80
em diante, quando, abandonado
pela MPB, passou a gravar quase
só obscuridades).
Artista sempre mais de povo
que de gabinete, Jair viveu assim
até a estrutura nepotista da gravadora Trama trazê-lo de volta a
produções e repertório mais sofisticados, nos braços amigos de
seus filhos, dos de Elis Regina e
dos de Wilson Simonal.
Tal fase se alicerçou numa reabertura de leque, e este "Intérprete" é a obra mais elaborada do novo Jair. Boa parte do crédito deve
ser dada ao produtor e filho Jair
Oliveira, que desconstrói o pendor do pai por formas e fórmulas
nada sutis de samba, numa tentativa ainda tênue de modernizá-lo.
O samba ainda respinga por cada fresta de respiração do vozeirão, mas repertório e participações além-samba dão vestes novas a Jairzão, tão elegantes quanto
as que ele usa nas fotos do CD.
Não acerta sempre, e o choque
permanece -Jair é tradição, nos
ares mais pesados do termo. "Arrastão", standard de Elis Regina
que ninguém se atrevia a retocar,
prova e comprova. É música antiga, regravada como tal.
O que não é antigo é Jair peitar
de frente um status de porta-voz
do subsolo da MPB, num diálogo
provável com o subsolo fértil de
público sem acesso ao circuito
principal, que o tem levado sempre adiante. É para todos esses
que Jair canta, cada dia mais.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Intérprete
Artista: Jair Rodrigues
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 19,90 (sugerido pela Trama)
Texto Anterior: Música: Jair lança novo disco em moto-contínuo Próximo Texto: Memória: Morte de Hampton cala vibrafone Índice
|