São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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LITERATURA

Escritor lança "Seis Mil em Espécie", esperada continuação do premiado livro policial "Tablóide Americano"

"Este é o mundo de Ellroy", diz Ellroy

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sexo, sangue, dinheiro e poder. Eis aí os quatro pilares do mundo de James Ellroy, 54, conforme descrito em seus livros. Não apenas em ficções, como o best seller "Los Angeles - Cidade Proibida", mas também em sua autobiografia, "Meus Lugares Escuros", em que descreve o assassinato de sua mãe, sua vida de adolescente ladrão de calcinhas e de adulto viciado em drogas.
O mundo de Ellroy continua a toda em "Seis Mil em Espécie", o livro mais esperado dos últimos anos por fãs da ficção policial. Desde 96, Ellroy não publicava um livro com trabalho inédito.
Além disso, "Seis Mil" é a continuação de sua melhor obra, "Tablóide Americano", premiado pela "Time" em 95 como livro do ano. São as duas primeiras partes do que Ellroy chama de Trilogia do Submundo Americano.
Leia a seguir entrevista que Ellroy concedeu à Folha por e-mail.

Folha - Há algumas semanas, a Folha revelou que uma unidade policial (Gradi), criada para investigar casos de racismo e intolerância, estava recrutando detentos nas prisões de SP para infiltrá-los em quadrilhas. Em oito meses de ação, aconteceram pelo menos 22 mortes e 7 prisões. Bem, as histórias que o sr. escreve parecem violentas demais para ser verdade, mas este caso poderia estar em um de seus livros, não é?
James Ellroy -
Este é o mundo de Ellroy. E você vive nele.

Folha - Em seus livros anteriores, o sr. mudava os personagens principais a cada obra. Mas os dois de "Seis Mil em Espécie" já estavam em "Tablóide Americano". O sr. está ficando sentimental com eles?
Ellroy -
A diferença é que a Trilogia Americana foi concebida como uma trilogia desde o início. Mas existe uma continuidade em alguns personagens do Quarteto de Los Angeles, como Ellis Loew, Duddley Smith e Ed Exley. "Dália Negra" não foi escrita no contexto do Quarteto. Mas os volumes seguintes, "O Grande Deserto", "LA - Cidade Proibida" e "Jazz Branco", foram concebidos depois.

Folha - Outra diferença: nos quatro livros ambientados em Los Angeles, os personagens eram movidos por interesses basicamente sexuais. Agora, na trilogia, os crimes parecem ter uma motivação política. É isso mesmo?
Ellroy -
Sim. Está certo, apesar de que ainda há um violento sentido de motivação sexual em muitos deles. E também acho que já havia uma grande quantidade de política nos livros do Quarteto, com exceção do primeiro, "Dália Negra".

Folha - No fim da década de 80 e primeira parte da de 90 o sr. estava lançando livros a cada um ou dois anos. Mas depois do autobiográfico "Meus Lugares Escuros", em que o sr. descreve o assassinato de sua mãe, passaram-se cinco anos sem lançar nada. Por quê?
Ellroy -
Os livros da Trilogia Americana são muito maiores e exigem muito mais pesquisa.

Folha - O sr. acha que esse tempo extra de preparação está fazendo seus livros melhorarem?
Ellroy -
Eu nunca sou mesquinho. Seja o que for que o livro exija, eu faço.

Folha - Em "Seis Mil em Espécie", há muitos detalhes sobre a máfia nos EUA. O sr. entrevistou mafiosos para criar essa história?
Ellroy -
Não. Eu apenas contrato pessoas para fazer pesquisas em livros. Apesar de escrever sobre a máfia, eu não aprovo a existência de gângsters e jamais passaria algum tempo com um deles, cara a cara. O que eu escrevo sobre mafiosos vem da leitura e da minha própria imaginação.

Folha - E quanto ao último volume da Trilogia?
Ellroy -
Ainda não tem nome. Deve estar nas livrarias daqui a três anos ou três anos e meio. E será, sim, o volume final.

Folha - É difícil pensar em um livro mais violento que os que o sr. escreveu. O sr. já leu algum mais violento?
Ellroy -
Francamente, não.


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