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Para Montenegro, autor criou imaginário exclusivo
ENVIADA ESPECIAL A CARTAGENA
A atriz brasileira Fernanda
Montenegro, 77, acaba de voltar de Cartagena, onde participou da rodagem de "O Amor
nos Tempos do Cólera". Ela vive a personagem Trânsito Ariza, mãe do protagonista, Florentino (Javier Bardem).
Leitora de García Márquez
há anos, Montenegro conta que
leu a obra do colombiano "sob o
espanto de "Cem Anos de Solidão", que é uma viagem para o
resto da vida", disse à Folha.
O filme todo foi gravado em
Cartagena de Indias, cidade
histórica do litoral colombiano,
na qual o autor viveu por alguns anos e teve pela primeira
vez um emprego num jornal, o
diário "El Universal".
Estão ali as praças, ruas e vielas nas quais o autor ambientou o romance. E também a polêmica casa de inspiração mourisca que construiu no meio do
casario colonial, para muitos,
contrariando o padrão arquitetônico da cidade.
Para Montenegro, Gabo é o
criador de um "imaginário exclusivo, dentro da aparente desorganização sul-americana.
Ele consegue fazer da pulverização uma unidade para esse
cipoal cultural que é o nosso
continente", diz.
A atriz conta que gostou de
contracenar com o espanhol
Bardem ("Mar Adentro"), que
vive o homem apaixonado que
espera pela amada por mais de
50 anos. O romance dramático
tem seu desenlace a bordo de
um navio, quando enfim os
dois amantes, já idosos, fazem
sexo um com o outro pela primeira vez. "Esse final, com a
consumação do amor na velhice, é muito lindo. É fantástico
como ele mostra que, no meio
da doença, da podridão, aquele
navio com a bandeira da cólera
pode ter uma dimensão poética
única", disse.
Em inglês
A produção tem sido criticada, na Colômbia, por ser falada
em inglês, e não em espanhol, já
que se trata da adaptação de um
dos maiores clássicos do idioma. "Não vejo contradição,
adaptamos Shakespeare para o
espanhol aqui, por que não podemos internacionalizar García Márquez", retruca o produtor Felipe Aljure. A razão principal, ele explica, é atingir o
mercado norte-americano.
"Eles preferem não ler legenda.
Não tem jeito."
(SC)
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