São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

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HEMINGWAY

Família do autor proíbe a impressão de conto e carta, que podem ser vendidos graças a brecha na legislação

Herdeiros de escritor vetam publicação

DO "NEW YORK TIMES"

Donald Stewart, 72 anos, herdeiro e homônimo do amigo para quem Ernest Hemingway remeteu a carta e o conto recém-descobertos, contou que os documentos estavam dentro de um envelope que ele herdara após a morte de seu pai, em 1980, e deixara intocado. "Eu não tinha me dado ao trabalho de abri-lo porque, para mim, o envelope representava o peso enorme de ter tido um pai famoso", ele falou em entrevista telefônica concedida de Roma.
No ano passado, porém, ele sentiu que já tinha se reconciliado com a memória de seu pai, e, depois de reler a referência autobiográfica feita por seu pai a um escrito inédito de Hemingway, decidiu "alegremente saquear o envelope" em busca do mesmo.
Ele tentou publicar os documentos na "Vanity Fair" moderna, acompanhados de um artigo próprio. A revista concordou, mas então descobriu que os herdeiros de Hemingway tinha se negado a autorizar a publicação.
Os documentos caem numa brecha da lei de direitos autorais. Embora o texto não possa ser publicado sem a permissão dos herdeiros de Hemingway, a carta e o conto datilografado podem ser vendidos como artefatos, segundo Patrick McGrath, especialista da Christie's de Nova York para livros e manuscritos.
McGrath disse que a casa de leilões autenticou a carta como tendo sido redigida na letra de Hemingway. A cópia carbono do conto também foi autenticada, em função de sua origem e porque as palavras "the end" estão na letra de Hemingway.
Não está claro por que motivo a publicação dos documentos não foi autorizada. De acordo com Stewart, a Fundação Ernest Hemingway lhe concedeu a autorização para publicar a carta e o conto em troca de US$ 500. A fundação é uma entidade legal que possui alguns direitos sobre materiais inéditos do escritor, segundo afirmou Gerald Kennedy, seu vice-presidente e professor na Universidade da Louisiana.
Entretanto, sob um acordo selado em 1983, após a morte da viúva do escritor, Mary Hemingway, é preciso a autorização conjunta da fundação e dos herdeiros para que qualquer material inédito possa ser publicado.
A Simon & Schuster, que detém os direitos sobre a obra publicada de Hemingway, também atua como intermediária entre os herdeiros e pessoas interessadas em publicar os escritos do autor. Em mensagem enviada a Stewart, a editora escreveu: "Os herdeiros não permitem tal publicação, portanto ela está proibida em qualquer parte do mundo".
A negação de autorização pelos herdeiros cancelou a decisão de Kennedy de aprovar a publicação dos documentos. "Estávamos felizes com a perspectiva, mas a família teve opinião diferente, e não posso falar por ela."


Tradução de Clara Allain


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