São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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Minisséries na TV recuperam o passado do Império Romano

Duas superproduções estréiam neste mês em canais pagos


Ave César

Franco Biciocchi/Associated Press
O ator Ciaran Hinds (ao centro) como Júlio Cesar na série "Roma"


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Outubro começa com uma overdose de Roma antiga na TV paga no Brasil. Estréiam com dois dias de diferença as milionárias minisséries "Roma" e "O Império", que começaram a ser exibidas nos EUA respectivamente no final de agosto e final de junho.
Elas têm em comum togas, espadas e orgias. Mas há uma diferença importante. Ambas foram influenciadas pelo melhor conhecimento histórico e arqueológico disponível. "Roma" soube usar melhor essas informações. "O Império" perpetua clichês comuns no cinema, na literatura e na cultura popular sobre o mundo romano. As duas têm vários personagens em comum e se passam quase na mesma fase histórica.
Das civilizações da Antigüidade clássica, sem dúvida Roma é uma das mais bem estudadas. Além de razoavelmente bem documentada, a história romana conta com os importantes achados arqueológicos de Pompéia e Herculano. Ao serem enterradas pela erupção do vulcão Vesúvio, essas duas cidades se transformaram em uma verdadeira "cápsula do tempo" preservada.
Havendo dinheiro, é possível ser realista -com o é o caso do orçamento de US$ 100 milhões (cerca de R$ 224 milhões) de "Roma". Por exemplo, kits completos de instrumentos médicos foram resgatados de Pompéia; uma cena de cirurgia na série se vale de reconstituições precisas desse material. Armas, couraças e mesmo táticas estão impecáveis.
A maior atenção à história do cotidiano permitiu também recriar hábitos da população romana. Quando um dos principais personagens, o legionário Tito Pullo, está preso, desenha um pênis ejaculando na parede da cela. Não é invencionice. Era comum romanos fazerem grafites em paredes. E o falo era um símbolo importante para eles, como ainda se pode ver abundantemente nas casas e ruas de Pompéia. "Roma" procurou ser fiel à história conhecida de Júlio César e dos anos finais da República romana.
Os 12 episódios de "Roma" se passam entre 52 a.C., quando César vence o gaulês Vercingetórix em Alésia, atual França, e 44 a.C., quando é assassinado por conspiradores no Senado romano.
Mas o grande charme da série não são as intrigas entre senadores e generais, e a sim as relações entre pessoas comuns. Que envolvem muito sexo e violência -como se poderia esperar de quem tem experiência em produzir séries como "Sex and the City" e "Família Soprano".
O legionário Tito Pullo é um bom exemplo de personagem carismático: violento, mulherengo, jogador de dados. Seu superior hierárquico é um perfeito militar "caxias", o centurião Lúcio Voreno. A série começa com um desentendimento entre os dois.
Um dos segredos do sucesso dos legionários romanos era a disciplina em combate. Os soldados lutavam em fileiras ordenadas e trocavam de posição quando necessário para descansar da luta. Pullo coloca a si mesmo, e ao grupo, em perigo ao sair da ordem e lutar feito um alucinado. É motivo suficiente para punição. O relacionamento dos dois evolui a partir do momento em que recebem uma missão delicada -resgatar o estandarte da águia de Júlio César.
A própria Roma não tem mais aquele visual asséptico associado a Hollywood. Segundo Bruno Heller, co-criador, produtor-executivo e escritor da série, "ela tem mais em comum com lugares como a Cidade do México e Calcutá do que o relaxante mármore branco. Roma era alegremente colorida, um lugar de vigorosa crueldade, cheio de energia, dinamismo e caoticamente sujo".
O consultor histórico da série, Jonathan Stamp, diz que a busca de autenticidade envolveu "muita investigação e a incorporação de todo tipo de detalhes; o comportamento dos personagens, o modo como interagem, como se vestem e até seus gestos. O tipo de rua em que caminhavam, suas vidas privadas e públicas. Nós nos esforçamos para conseguir a autenticidade, porque isso enriquece a experiência do drama".
Mesmo o centurião Lúcio e o legionário Tito são figuras históricas reais que foram mencionadas nos escritos de César sobre a guerra na Gália -"Bruno Heller então criou os detalhes de suas vidas", afirma Stamp.
Roma (12 episódios)
Quando: estréia no dia 9 (episódios 1 e 2), às 22h; aos domingos, no canal HBO (reexibição às quintas, às 22h)


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