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RELÂMPAGOS
Farfalhar
da serra
JOÃO GILBERTO NOLL
Você beijou minha cicatriz, e eu não queria ir. Preferia o pomar até que o tempo se firmasse e pudesse dar
o dourado mortiço do crepúsculo. Lembranças vãs
essas, que acabaram sendo
a véspera do verão informe
aqui. Encostei minha filha
no peito: "Vamos para a orla, isso, marola nos pés".
Minha cicatriz suspira, mas
agora digo que estaremos lá
em três dias e que, no mar,
baterei três vezes no esôfago um nome latejante qualquer, feito zero, fagulha, dó.
Descobrirás o ocluso marulhar na concha: ó, assim é!
Depois, um farfalhar da serra aleitará a tarde nua,
exemplar.
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