São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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RELÂMPAGOS
Farfalhar da serra

JOÃO GILBERTO NOLL

Você beijou minha cicatriz, e eu não queria ir. Preferia o pomar até que o tempo se firmasse e pudesse dar o dourado mortiço do crepúsculo. Lembranças vãs essas, que acabaram sendo a véspera do verão informe aqui. Encostei minha filha no peito: "Vamos para a orla, isso, marola nos pés". Minha cicatriz suspira, mas agora digo que estaremos lá em três dias e que, no mar, baterei três vezes no esôfago um nome latejante qualquer, feito zero, fagulha, dó. Descobrirás o ocluso marulhar na concha: ó, assim é! Depois, um farfalhar da serra aleitará a tarde nua, exemplar.



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