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Abordagem destaca criatividade humana
da Equipe de Articulistas
À primeira vista, "Nós que Aqui
Estamos por Vós Esperamos" é
um longo videoclipe sobre o século
20, que cola aleatoriamente imagens de natureza diversa para
constituir mais uma atmosfera do
que um pensamento.
Mas essa primeira leitura é enganosa. Com mais atenção, percebemos que há um princípio conceitual na organização das imagens.
Mais até: há uma visão de mundo.
Não, o século 20 não foi uma sucessão caótica de guerras, revoluções e descobertas tecnológicas.
Foi uma realidade complexa e fugidia, construída por milhões de
anônimos que sonharam, se iludiram, criaram, tiveram esperanças.
Em contraponto com a efígie dos
"grandes vultos", as microbiografias dessa miríade de zés-ninguéns
não pretendem resumir a história
do século e sim dar-lhe uma consistência física, carnal -e social.
A escolha desses personagens
não foi aleatória. Na história trágica do kamikaze japonês, reflete-se
todo o drama do império fascista
nipônico. Na do pedreiro de Nova
York, o crescimento vertiginoso da
economia norte-americana.
Quando se mostra uma mulher
trabalhando numa fábrica de armas, fala-se indiretamente da integração feminina no mercado de
trabalho e da mercantilização da
morte pela indústria bélica.
À imagem de uma Europa em
ruínas contrapõe-se a de uma
América em construção.
Não há locução nenhuma no filme, apenas letreiros (às vezes informativos, às vezes jocosos) e música. Esta última, assinada por
Wim Mertens, é um tanto cansativa e repetitiva. O filme ganharia
muito se tivesse mais silêncio.
Outro acerto do documentário é
fugir do esquema didático-determinista que costuma mostrar as
manifestações artísticas como reflexo ou efeito das "causas" econômicas, sociais ou políticas.
No filme de Marcelo Masagão, é
muitas vezes o fato artístico -por
exemplo, a dança de Nijinski-
que transforma o mundo.
Nessa releitura do século, aliás, o
corpo ganha uma importância
central. Não por acaso, as pernas
de Garrincha e Fred Astaire ocupam mais tempo que as insanidades de Hitler ou Stálin.
Pode não ser uma verdade histórica, mas é, com certeza, uma verdade poética.
(JGC)
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