São Paulo, sexta, 2 de outubro de 1998

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CINEMA - ESTRÉIA
Exagero na violência torna "187' inverossímil

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Qualquer semelhança entre "187 - Código da Violência" e o clássico dos filmes de decadência escolar "Ao Mestre Com Carinho" não é mera coincidência. Também não é à toa que o ator Samuel L. Jackson, escolhido para ser o professor do primeiro filme, é tão negro quanto Sidney Poitier, o mestre do segundo.
Lugar de negro, no sistema educacional norte-americano, ainda é nas escolas públicas, onde imperam o desamparo, o medo e a violência. "187 - Código da Violência" é uma espécie de "Ao Mestre Com Carinho" versão anos 90.
Conta a história do dedicado professor de ciências Trevor Garfield (Jackson), que leciona numa escola pública de Los Angeles (Califórnia), frequentada por uma maioria de negros e latinos (guetos de segregação racial à la EUA) de classe baixa.
Ali, num ambiente de pobreza e desordem, professores são invariavelmente ameaçados por alunos baderneiros, membros de gangues que assaltam, matam, traficam e usam drogas.
No caso do professor Garfield, a coisa vai além. Ele é brutalmente esfaqueado por um aluno que repetiu de ano em sua matéria. Afastado da escola por longo tempo depois do acidente, volta a lecionar com a personalidade mudada.
Desiludido com o magistério e com a ineficiência do sistema, Garfield começa a fazer justiça com suas próprias mãos. E já que os tempos são outros, a violência também o é.
O filme tem cenas de tamanha barbárie que é quase inverossímil. A ausência de autoridade policial, por exemplo, ou judicial, na história, também ajuda a torná-la meio inacreditável.
O diretor Kevin Reynolds ("Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões") não conseguiu realizar um filme emocionante ou tão charmoso e marcante quanto "Ao Mestre com Carinho".
Mas ele tem lá seus momentos de intensidade -na tensão que envolve o relacionamento erótico (nunca consumado) entre o professor negro e a professora branca (Kelly Rowan), por exemplo.
Tem também seus momentos de poesia na escuridão dos tons que compõem a atmosfera sombria da escola e das ruas.
O longo e incômodo instante (para o espectador) em que a câmera repousa desfocada sobre a classe, expressando a visão que o professor tem do universo de alunos diante de si -uma massa amorfa e indivisa de brutalidade- , é o outro bom momento da técnica de Reynolds.
Nada além disso. Os atores adolescentes são ruins. O destaque fica mesmo com a música "Spying Glass", da banda inglesa Massive Attack (que chamam de som urbano "trip-hop", versão do hip-hop à inglesa).
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Filme: 187 - Código da Violência Produção: Inglaterra, 1997, 96 min. Direção: Kevin Reynolds Com: Samuel L. Jackson, John Heard, Kelly Rowan Quando: a partir de hoje, nos cines Ipiranga, Eldorado 6, Raposo Shopping 8, Center Iguatemi 2, Center Penha 1, Lar Center 2 e circuito


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