BARRY WHITE


PAULO VIEIRA
especial para a Folha


Concordo com os Fun Love Criminals: Barry White salvou minha vida. Os discos -a compilação dupla com capa cor-de-rosa inclusive- estavam lá, na sala de casa, desde os anos 70.
Se descobrir Al Green ou Smokey Robinson causou mais impacto, ouvir aquela voz, aquelas cordas -orquestração luxuriante, no clichê-, tornou-se vício pesado, quase inadministrável.
Não só para mim, vide as seguidas vezes que a obra de White é inspiração explícita para personagens de filmes e séries de TV (recentemente: "Ally McBeal", onde o maestro também foi convidado a aparecer num episódio, e em "Serenata de Amor" -título retirado de um hit de White).
Não seria impróprio comparar White a Tim Maia, e não só por fenotipia: domínio total de produção e falta de grana nos 80/90 levaram ambos a discos irregulares, mas aceitáveis. Pois bem: Barry lançou mais um, cinco anos após o insosso "The Icon is Love".
"Staying Power" -prometido em versão nacional pela BMG-, sofre das estratégias convencionais (Puffy produzindo uma faixa; "Low Rider", cover que nada acrescenta ao original, do War; duas versões de uma mesma música, em duetos alternados com Chaka Khan e Lisa Stansfield), mas tem suas velhas marcas: belas harmonizações, sussurros eriça-pelos, eternos elogios à mulher, vocais femininos irrepreensíveis.
Está longe do melhor White, mas não é o caso de esperar por isso. Agora, o baixão à Marcus Miller, que abre a faixa-título, a entrada de Chaka Khan em "The Longer We Make Love", o dueto à guisa de refrão com Glodean White na faixa seguinte, e este verso, retirado aleatoriamente, "Provoque-me com sua emoção /Logo vamos dividir a mesma loção", justificam o e-commerce.
Ter alguns Whites é a chave para entender o formato pop dos últimos 30 anos. E tem valor afrodisíaco, com a vantagem adicional da economia de saxofones. "Staying Power" não decepciona quem está começando agora.

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