São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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MÚSICA

Baixista desembarca em SP para show no domingo, no Tim Festival, e quer experimentar canções do próximo álbum

Dave Holland expande "cores" com big band

GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Desde que foi chamado por Miles Davis para integrar a sua banda, em 1968, o baixista inglês Dave Holland trocou a sua Inglaterra natal pelos Estados Unidos. Em Nova York, Holland mostrou-se uma peça-chave na guinada que Miles dá para o som elétrico no fim dos anos 60 e grava dois dos discos mais emblemáticos desse período, "In a Silent Way" e "Bitches Brew", ambos de 1969.
Para muitos músicos, bastaria ter participado desses dois discos para ter o nome inscrito no panteão do jazz. Mas, para Holland, esse era apenas o início de uma das carreiras mais brilhantes do jazz contemporâneo, seja como instrumentista ou como compositor. Em 1970, o baixista deixou a banda de Miles para buscar uma sonoridade própria. Integrou grupos seminais dos anos 70, como o quarteto Circle, ao lado de Chick Corea (piano), Anthony Braxton (sax) e Barry Altschul (bateria), e o trio Gateway, com John Ambercrombie (guitarra) e Jack DeJohnette (bateria).
Um traço comum a unir essas bandas e todo o seu trabalho como líder, que culmina no quinteto formado com Robin Eubanks (trombone), Steve Nelson (vibrafone), Chris Potter (sax) e Billy Kilson (bateria), com quem tem tocado desde o fim dos anos 90, é uma constante busca de aprimoramento como músico e compositor, lição aprendida desde os tempos em que tocava com Miles Davis. "Aprendi isso com Miles, mas não só com ele. Faz parte da tradição do jazz buscar uma evolução constante, embora muitos músicos não pensem assim", diz Holland, 68, à Folha, por telefone, de Nova York.
Nos últimos anos, Holland tem sido apontado pela revista especializada em jazz "Downbeat" como o melhor baixista em atividade, e seu quinteto é considerado um dos melhores grupos de hoje. O baixista, contudo, desdenha esses títulos. "Não acho que eu seja o melhor baixista do mundo. Eu não penso em música como eu penso em vegetais. Se você gosta do jeito que eu toco, se eu sou o seu baixista preferido, eu agradeço, mas eu não penso em mim como se estivesse numa competição ou tentando ser o melhor. Tudo o que eu quero é tentar contribuir com algo para a música, algo que signifique alguma coisa para mim", diz. "O meu jeito de trabalhar é tentar criar mudanças. Não uma mudança radical, de um mês para o outro. Mas, em 30 anos, considero uma boa maneira de trabalhar o fato de eu tentar desenvolver a minha música em caminhos diferentes. Nos últimos dois anos, um jeito que eu encontrei para me desenvolver criativamente foi no contexto da big band", completa.
É justamente com a sua big band que Holland desembarca em São Paulo no fim desta semana para um show domingo, dia 7, no Tim Festival. No show, o baixista irá tocar as composições de "What Goes Around", o primeiro disco com a big band, lançado em 2002, e algumas composições recentes. "Temos músicas novas que estarão no disco que estamos gravando, previsto para sair em janeiro do próximo ano. Nós gostaríamos de mostrar parte dessa música para o público de São Paulo, também para que eu tenha a chance de ouvi-la ao vivo."
Para Holland, quem assistir ao show do Tim Festival não verá uma big band tradicional, que relê o swing dos anos 30 e 40. "Não acho que eu esteja olhando para o passado ao montar uma big band. Eu estou olhando para o presente e para o que é relevante agora para mim, como um músico. Estou tocando o que eu quero tocar. Embora a banda use um contexto de swing e talvez a mesma instrumentação das velhas big bands, eu penso que a música que sai dela é música moderna. Eu não estou tocando uma música retrospectiva de jeito nenhum", justifica o baixista.
A big band é formada por 13 músicos, incluindo Holland, e funciona, como o próprio baixista confirma, como uma forma estendida de seu quinteto. "A diferença entre o quinteto e a banda é que num grupo pequeno você tem uma grande flexibilidade e espaço para intimidade. Na big band você tem a possibilidade de fazer composições mais arrojadas, criar mais cores com a orquestração e estender as suas idéias, além, claro, do fato de que na big band você tem um grande pool de solistas. Essa é inclusive uma das diferenças entre a minha banda e uma big band normal. Todo mundo faz solos, não apenas um ou dois músicos."
Outro aspecto que enriquece o som da banda é a mistura entre juventude e experiência dos músicos que vêm ao Brasil com Holland. "Nós temos músicos de quase todas as décadas na banda. O mais novo está na casa dos 20 anos, temos alguns na casa dos 30 e outros da casa dos 40 e 50. Tocar com músicos mais jovens é uma experiência boa para os dois porque acontece uma comunicação muito importante. No músico jovem você vê muito idealismo e uma energia muito grande, mas, com sorte, num músico mais velho você encontra tudo isso mais experiência", brinca.


DAVE HOLLAND BIG BAND. Show no Tim Festival. Onde: Jockey Club de SP (av. Lineu de Paula Machado, 1.263). Quando: 7/11, às 20h. Quanto: R$ 120, pelo site www.ticketmaster.com.br.


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