São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

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"ODETE"

Desvio vira regra para diretor de "O Fantasma"

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O universo do português João Pedro Rodrigues costuma ser povoado por personagens docemente brutalizados, com comportamentos fora de padrão, situados à margem do que se considera a regra social. Foi assim com "O Fantasma" (2000) e é assim em seu novo "Odete".
No começo do filme, o cineasta cria a ilusão do amor feliz. Pedro (João Carreira) e Rui (Carloto Cotta) são dois jovens apaixonados, que se beijam avidamente e trocam alianças como sinal de compromisso. A felicidade, entretanto, é passageira, Rui morre num acidente de carro, porque falava ao celular com o namorado, que ouve seu suspiro final.
Surge Odete (Ana Cristina de Oliveira), empregada de um supermercado, que termina com o namorado porque ele não queria ter filhos e acaba participando do funeral de Rui, onde tem um ataque histérico. É o momento de passagem, quando o diretor retoma a caracterização de insatisfeitos com o padrão e que deambula em busca de identidade, sem preconceitos, sem barreiras.
Odete passa a tentar encarnar o morto. Começa roubando a aliança da mão do defunto, simula ter sido íntima dele. Ao mesmo tempo que procura assumir a identidade de Rui, revela-se grávida do "alter ego", que era gay.
Aí, Rodrigues caminha no difícil limite da verossimilhança no cinema, quando o espectador pode questionar até que ponto o que se vê é passível de existir. Ele não faz concessões nesse sentido. Seus personagens dão passos além do que se costuma chamar "convencional", e é essa radicalidade que faz do diretor uma lufada subversiva em meio a tanto melodrama.
E assim, Odete, com barriga de grávida e já de cabelos curtos, idêntica a Pedro, acaba sendo aceita até mesmo pela mãe do morto e por seu ex-namorado, que a procura para cuidar de quem ele acredita ser seu filho. Mas a gravidez não segue exatamente como Odete gostaria, e a trama se torna ainda mais complexa. No universo de João Pedro Rodrigues, o desvio é a regra.


Odete
   
Direção: João Pedro Rodrigues
Quando: amanhã, às 15h, no Cine Olido, e às 22h10, no Cineclube Vitrine


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