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"ODETE"
Desvio vira regra para diretor de "O Fantasma"
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O universo do português
João Pedro Rodrigues costuma ser povoado por personagens
docemente brutalizados, com
comportamentos fora de padrão,
situados à margem do que se considera a regra social. Foi assim
com "O Fantasma" (2000) e é assim em seu novo "Odete".
No começo do filme, o cineasta
cria a ilusão do amor feliz. Pedro
(João Carreira) e Rui (Carloto
Cotta) são dois jovens apaixonados, que se beijam avidamente e
trocam alianças como sinal de
compromisso. A felicidade, entretanto, é passageira, Rui morre
num acidente de carro, porque falava ao celular com o namorado,
que ouve seu suspiro final.
Surge Odete (Ana Cristina de
Oliveira), empregada de um supermercado, que termina com o
namorado porque ele não queria
ter filhos e acaba participando do
funeral de Rui, onde tem um ataque histérico. É o momento de
passagem, quando o diretor retoma a caracterização de insatisfeitos com o padrão e que deambula
em busca de identidade, sem preconceitos, sem barreiras.
Odete passa a tentar encarnar o
morto. Começa roubando a aliança da mão do defunto, simula ter
sido íntima dele. Ao mesmo tempo que procura assumir a identidade de Rui, revela-se grávida do
"alter ego", que era gay.
Aí, Rodrigues caminha no difícil
limite da verossimilhança no cinema, quando o espectador pode
questionar até que ponto o que se
vê é passível de existir. Ele não faz
concessões nesse sentido. Seus
personagens dão passos além do
que se costuma chamar "convencional", e é essa radicalidade que
faz do diretor uma lufada subversiva em meio a tanto melodrama.
E assim, Odete, com barriga de
grávida e já de cabelos curtos,
idêntica a Pedro, acaba sendo
aceita até mesmo pela mãe do
morto e por seu ex-namorado,
que a procura para cuidar de
quem ele acredita ser seu filho.
Mas a gravidez não segue exatamente como Odete gostaria, e a
trama se torna ainda mais complexa. No universo de João Pedro
Rodrigues, o desvio é a regra.
Odete
Direção: João Pedro Rodrigues
Quando: amanhã, às 15h, no Cine Olido,
e às 22h10, no Cineclube Vitrine
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