São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

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FOTOGRAFIA

Dividido em capítulos como "Carnaval" e "Religião e Festas", livro revê 50 anos de carreira do fotógrafo

Obra de Firmo revela Brasil cromático

Walter Firmo
Pixinguinha no quintal de sua casa, em 1968, foto integra livro de Walter Firmo


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Prestes a comemorar 70 anos de idade e 50 de carreira como fotógrafo profissional, o carioca Walter Firmo lança a obra "Firmo" a fim de "celebrar a identidade dos objetos, iludindo pela luz e pela cor, inspirado no iluminismo visionário de que o belo é belo, o feio que me perdoe". O belo, no caso, é o Brasil, seu grande tema.
O livro que chega agora às livrarias tem 320 páginas e 240 fotografias divididas nos capítulos "Brasil, uma Visão Interior", "Religião e Festas", "Carnaval", "Afeto, Cotidiano" e "Fronteira, Ensaio". Antes dessas séries coloridas, porém, o livro se inicia com 12 fotografias em preto-e-branco. Em uma delas o ponta-esquerda Zagalo chuta a gol durante partida do campeonato carioca de 1957, ano em que Firmo ingressou no jornal "Última Hora".
Os anos 50 e 60 marcam justamente um período glorioso para o fotojornalismo brasileiro. Com a presença de vários fotógrafos estrangeiros nas Redações, como Jean Manzon e David Drew Zingg, a fotografia deu um salto de qualidade incorporando elementos das vanguardas estéticas que finalmente ecoavam desse lado do oceano.
Após três anos no "Última Hora", Firmo passou pelas redações do "Jornal do Brasil" e da revista "Realidade". Esta última seria o marco de uma nova geração de fotógrafos documentaristas que desbravariam o Brasil e o fazer fotográfico, para revelar locais e culturas distantes das metrópoles.
Quando se tornou fotógrafo autônomo, o foco de Firmo foi cada vez mais sendo direcionando para a pesquisa da cultura popular. Nesses quase 50 anos de carreira constituiu um dos maiores arquivos pessoais de eventos religiosos, festas tradicionais, povos ribeirinhos e outros tipos nacionais.
A fotografia de Firmo se sustenta na documentação objetiva, sem grandes arroubos de composição, mas com a busca constante das relações cromáticas e formais entre figura e fundo. Em texto de apresentação, ele escreve: "Todo fotógrafo tem três roupagens: a do "ladrão", a do "engenheiro" e a do "invisível". O ladrão não se importa com foco ou estética. Vale tudo porque o importante é roubar cenas do jeito que der. O engenheiro dirige suas cenas com régua e compasso para engrandecer o quadro. O invisível é quando o fotógrafo, dissolvido na multidão, capta o mundo com "três olhos" sem que ninguém o perceba".
Firmo e seus heterônimos viajavam ontem do Rio para São Paulo, cidades nas quais alterna os dias para ministrar cursos para fotógrafos iniciantes, quando atendeu a Folha para uma entrevista. Leia a seguir alguns trechos:
 

Folha - Seu tema é o Brasil, mas nas fotos não há miséria nem conflitos...
Firmo -
Desde que não fui mais obrigado pelos jornais em que trabalhei a fotografar por esse prisma, me voltei totalmente para a beleza, a valorização da estética e da fantasia. Gosto de criar atmosferas.

Folha - O que mudou nesses 50 anos? Robert Doisneau parou de fotografar porque o mundo teria perdido a ingenuidade.
Firmo -
Eu não a perdi. Sou um humanista, escravo do romantismo. Tenho a crença no outro.

Folha - A busca do momento decisivo ainda te estimula?
Firmo -
Cada fotógrafo tem o seu momento decisivo. No meu caso é o instante do sonho, do rigor pictórico.

Folha - Este é um livro definitivo?
Firmo -
Que nada. Igual a esse eu quero fazer mais uns quatro. Sem repetir as fotos. Achei que só teria um desses depois de morto. Estou no lucro. E agora que perdi o pudor com a câmera digital, minha produção não vai parar tão cedo.


Firmo
Editora:
Bem-Te-Vi
Quanto: R$ 200 (300 páginas)


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