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Crítica/"A Última Noite"
Altman filma seu retrato afetivo do rádio
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O
elenco estelar (Meryl
Streep e Lily Tomlin à
frente) chama naturalmente a atenção, mas o astro
mais reluzente de "A Última
Noite" é o rádio, celebrado pelas relações de afetividade que
estabelece ao longo do tempo
com o seu público.
É um registro mais próximo,
portanto, do romantismo felliniano evocado em "Radio
Days" (1987), de Woody Allen,
do que dos sentimentos perigosos despertados em ouvintes
pelos radialistas de "Perversa
Paixão" (1971), de Clint Eastwood, por exemplo.
O argumento se inspira no
programa "A Prairie Home
Companion", criado em 1974
por Garrison Keillor e ainda
hoje no ar, com 32 apresentações de duas horas por temporada, transmitidas aos sábados
em cadeia nacional nos EUA.
No filme, o apresentador
(Keillor, que é escritor e também assina o roteiro) e seus
convidados protagonizam, sem
que os ouvintes saibam, a última transmissão do programa,
ao vivo, de um teatro.
Parecem todos -o rádio, os
artistas e o teatro- fora do
tempo, um tanto deslocados
em um mundo (representado
pelos proprietários da emissora) que não tem mais paciência
com "velharias".
Nesse limbo, o diretor Robert Altman, 81, cria uma atmosfera de nostalgia em que a
amargura da situação é equilibrada pelo olhar carinhoso que
o filme dedica à trupe, sobre a
qual pesa a responsabilidade de
representar a categoria mitológica dos profissionais do entretenimento popular.
Como na maioria dos filmes
de Altman, entre os quais
"Nashville" (1975) e "Short
Cuts" (1993), a narrativa segue
a lógica do mosaico, saltando de
um grupo de personagens para
outro, nos bastidores e no palco, com musicais intercalados.
Ao diluir a idéia de trama ou
fio condutor, a fragmentação
serve também para estender
preguiçosamente o tempo, como se estivessem todos à espera de salvação não só para o
programa mas também para o
momento em que precisarão
dizer tchau e seguir em frente.
O que leva à impropriedade
do título brasileiro (que coincide com o de "The 25th Hour",
de Spike Lee): a "última noite"
do programa, e de um ou dois
personagens, é a primeira do
resto das vidas dos outros.
A ÚLTIMA NOITE
Direção: Robert Altman
Produção: EUA, 2006
Com: Meryl Streep, Lily Tomlin
Quando: em cartaz no cine Frei Caneca
Unibanco Arteplex e circuito
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