São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2007

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Cinema/estréias

Estreante "rouba" papel e encarna Noel na tela grande

Em teste para elenco secundário do filme, Rafael Raposo, com trajetória no teatro, derrubou "ator global" contratado

Diretor diz que viveu "saia justa", mas cedeu ao "trunfo da semelhança física" de Raposo com o músico; ator se acha "mais bonito" após filme

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando foi chamado para fazer teste para "um filme musical com canções dos anos 30 e 40", Rafael Raposo interpretava no teatro um personagem sem nome. Era o amigo 1 do "Menino Maluquinho", em montagem do texto de Ziraldo dirigida por Felipe Camargo.
Quando aceitou ser o amigo 1, Raposo, 27, temeu estar dando um passo atrás na carreira teatral. Era 2003 e ele "já fazia personagens com nome...", ponderou. Mas "a grana era boa", e ele precisava dela.
Foi por estar envolvido com um montagem musical que Raposo entrou no radar das profissionais que selecionavam o elenco de "Noel - Poeta da Vila", primeiro longa do diretor Ricardo Van Steen, que estréia hoje em SP, Rio e Brasília.
O papel de Noel Rosa (1910-37) já tinha dono. Determinado a realizar um filme sobre a vida do compositor desde 1996, Van Steen havia fechado contrato com um "ator global", que ele não nomeia, e que já se preparava para o papel, freqüentando aulas de canto e violão.
Mas, a partir do convite para o teste, Raposo concluiu: "Esse filme é sobre Noel e é para mim". O ator diz que "não foi arrogância" o que o moveu a pensar assim e a anunciar isso a Van Steen, quando chegou vestido de branco, com gel nos cabelos e cantando vitória.
"A minha vida é assim, marcada por coincidências", diz. E Noel havia aparecido "como um espelho" na trajetória de Raposo, em ocasiões anteriores. Certa vez, ele ouviu de um professor de teatro que pessoas como ele, Noel e Chaplin eram "patinhos feios que levavam um cisne dentro de si".
Van Steen disse que se viu "metido numa saia justa", mas tomou a "decisão difícil" de romper o contrato com o ator antes engajado no projeto e indenizá-lo pela rescisão, para não descartar "o trunfo da semelhança física" de Raposo com Noel Rosa, notório pelo afundamento do queixo provocado no nascimento a fórceps.
Para se aproximar do universo de Noel e interpretá-lo em seu primeiro trabalho no cinema, Raposo foi aos detalhes.
Ele, que não é "nada baladeiro", experimentou madrugadas de bebedeira no bairro carioca da Lapa; alisou o cabelo e passou a usá-lo para encobrir o rosto; observou que "as pessoas antigas dão o passo completo [do calcanhar à ponta dos dedos]" e modificou seu andar.
Na véspera do início das filmagens, o ator teve um sonho em que Noel lhe confessava o desejo de "ir para o set". Raposo chegou para a primeira cena com uma foto emoldurada do compositor debaixo do braço. O quadro virou amuleto e "viu" todo o filme ser rodado.
Quando as filmagens terminaram, Raposo passou "dias trancado em casa, com uma dor no peito, como se tivesse perdido uma pessoa". Nos três anos que levou para chegar às salas, "Noel - O Poeta da Vila" afastou a sensação de perda e produziu um acréscimo na vida do ator. "Depois que me vi na tela, passei a me achar bonito." (SA)


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