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Cinema/estréias
Estreante "rouba" papel e encarna Noel na tela grande
Em teste para elenco secundário do filme, Rafael Raposo, com trajetória no teatro, derrubou "ator global" contratado
Diretor diz que viveu "saia justa", mas cedeu ao "trunfo da semelhança física" de Raposo com o músico; ator se acha "mais bonito" após filme
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando foi chamado para fazer teste para "um filme musical com canções dos anos 30 e
40", Rafael Raposo interpretava no teatro um personagem
sem nome. Era o amigo 1 do
"Menino Maluquinho", em
montagem do texto de Ziraldo
dirigida por Felipe Camargo.
Quando aceitou ser o amigo
1, Raposo, 27, temeu estar dando um passo atrás na carreira
teatral. Era 2003 e ele "já fazia
personagens com nome...",
ponderou. Mas "a grana era
boa", e ele precisava dela.
Foi por estar envolvido com
um montagem musical que Raposo entrou no radar das profissionais que selecionavam o
elenco de "Noel - Poeta da Vila", primeiro longa do diretor
Ricardo Van Steen, que estréia
hoje em SP, Rio e Brasília.
O papel de Noel Rosa (1910-37) já tinha dono. Determinado
a realizar um filme sobre a vida
do compositor desde 1996, Van
Steen havia fechado contrato
com um "ator global", que ele
não nomeia, e que já se preparava para o papel, freqüentando aulas de canto e violão.
Mas, a partir do convite para
o teste, Raposo concluiu: "Esse
filme é sobre Noel e é para
mim". O ator diz que "não foi
arrogância" o que o moveu a
pensar assim e a anunciar isso a
Van Steen, quando chegou vestido de branco, com gel nos cabelos e cantando vitória.
"A minha vida é assim, marcada por coincidências", diz. E
Noel havia aparecido "como
um espelho" na trajetória de
Raposo, em ocasiões anteriores. Certa vez, ele ouviu de um
professor de teatro que pessoas
como ele, Noel e Chaplin eram
"patinhos feios que levavam
um cisne dentro de si".
Van Steen disse que se viu
"metido numa saia justa", mas
tomou a "decisão difícil" de
romper o contrato com o ator
antes engajado no projeto e indenizá-lo pela rescisão, para
não descartar "o trunfo da semelhança física" de Raposo
com Noel Rosa, notório pelo
afundamento do queixo provocado no nascimento a fórceps.
Para se aproximar do universo de Noel e interpretá-lo em
seu primeiro trabalho no cinema, Raposo foi aos detalhes.
Ele, que não é "nada baladeiro", experimentou madrugadas
de bebedeira no bairro carioca
da Lapa; alisou o cabelo e passou a usá-lo para encobrir o
rosto; observou que "as pessoas
antigas dão o passo completo
[do calcanhar à ponta dos dedos]" e modificou seu andar.
Na véspera do início das filmagens, o ator teve um sonho
em que Noel lhe confessava o
desejo de "ir para o set". Raposo
chegou para a primeira cena
com uma foto emoldurada do
compositor debaixo do braço.
O quadro virou amuleto e "viu"
todo o filme ser rodado.
Quando as filmagens terminaram, Raposo passou "dias
trancado em casa, com uma dor
no peito, como se tivesse perdido uma pessoa". Nos três anos
que levou para chegar às salas,
"Noel - O Poeta da Vila" afastou
a sensação de perda e produziu
um acréscimo na vida do ator.
"Depois que me vi na tela, passei a me achar bonito."
(SA)
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