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Juventude censurada
Restrição à exposição de Larry Clark em Paris e retirada de obras na Suíça reacende debates em torno do artista
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Um casal de adolescentes
faz sexo numa banheira, outros dois transam no banco
de trás de um carro estacionado. Alguns brincam com
revólveres ou aparecem injetando drogas direto na veia.
Isso há mais de 30 anos. Já
não são garotos e garotas
aqueles que estão nas fotografias de Larry Clark, hoje
também sexagenário. Mas a
polêmica em torno delas está
mais fresca do que nunca.
Clark está acostumado a
ter seus filmes, clássicos cult
como "Kids", de 1995, proibidos para menores de 18 anos,
mas a mesma restrição de
sua retrospectiva agora no
Museu de Arte Moderna de
Paris, a mais ampla da carreira, tem acirrado os ânimos.
Essa é a primeira vez que
uma mostra de Clark sofre esse tipo de censura. Imagens
da série "Tulsa", de 1971, e
"Teenage Lust", de 1983, já
rodaram o mundo. Estiveram
em Paris, na Maison Européenne de la Photographie e
também foram mostradas há
cinco anos em Nova York.
Agora, numa França em
convulsão com greves e manifestações contra reformas
de Nicolas Sarkozy, jornais
não deixam passar em branco a autocensura do museu,
a ira do artista e as opiniões
contra e a favor.
"É um ataque à juventude,
ficaram com medo e proibiram a mostra", diz Clark à
Folha. "Isso é como deixar
adolescentes verem pornografia na internet e não deixar que vejam arte sobre eles
dentro de um museu."
Em artigo, o jornal "Libération" acusou o museu de
censura, o que motivou uma
resposta do prefeito de Paris,
Bertrand Delanoë, em defesa
do MAM, que é municipal.
"É nosso dever evitar o risco de interdição judicial",
diz o comunicado. "Não é
uma atitude pudica, mas desejo de permitir a expressão
da liberdade artística."
Engrossando a histeria em
torno de Clark, um grupo de
ultradireita, a Aliança Geral
contra o Racismo e pelo Respeito à Identidade Francesa
e Cristã, processa o MAM,
exigindo o fim da mostra,
que acusa de "feiura estupefaciente, grande vulgaridade
e rara obscenidade".
No rastro do escândalo, o
Centro Paul Klee, em Berna,
tirou duas obras de Clark de
uma coletiva, alegando que
toda polêmica poderia ofuscar os demais trabalhos.
"É uma atitude covarde",
diz Clark. "Isso tudo é bobagem, é só política, mas sou
um artista que faz seu trabalho e que não controla o que
as pessoas acham disso."
Gostem ou não, Clark
adiantou à Folha que volta a
Paris no ano que vem para rodar um novo filme, agora sobre a juventude francesa.
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