São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2011

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CRÍTICA

"Mundo Invisível" se vale da inspiração de seus realizadores

35ª MOSTRA DE SP Agradável surpresa produzida pelo festival, longa de episódios tem 3 sessões no evento

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Talvez seja só coincidência, mas os episódios mais felizes de "Mundo Invisível" são aqueles em que Leon Cakoff, o criador da Mostra, está diretamente implicado.
É verdade que em "Do Visível ao Invisível", de Manoel de Oliveira, sua participação é até certo ponto fortuita. No lugar dele, poderia haver algum outro ator na história de dois amigos, um brasileiro e um português, que se encontram na região da av. Paulista. Eles tentam conversar, mas é impossível, pois ora o celular de um, ora o de outro corta a conversa.
O episódio é curto, agudo, e se vale dessa simplicidade que é a marca de Oliveira: capaz de transformar a ideia mais original num momento simples e irretocável.
O segundo episódio, entre esses muito felizes, é dirigido por Atom Egoyan, mas trata-se a rigor de uma criação comum dele e de Cakoff, que narra uma história vivida por ele mesmo: sua viagem à Armênia, em 1988, quando cumpriu a promessa feita à mãe de tentar o localizar o avô.
Tudo gira em torno do genocídio dos armênios pelos turcos, em 1915. A contribuição principal de Egoyan está certamente na inserção de filmes mudos armênios: não apenas evocação de um tempo passado mas também memória viva, em imagens, preservada: tão intensa quanto a dor dos armênios pelo massacre de seus antepassados.
Dos demais episódios, vários deles são inteiramente interessantes, como o breve, mas também agudo episódio de Marco Bechis, que leva um grupo de índios da floresta (o parque Trianon) à selva urbana (av. Paulista): viagem notável no espaço e no tempo. Wim Wenders observa o tratamento de um grupo de crianças com visão reduzida, até há pouco tratadas como cegas, que se faz no serviço oftalmológico da Santa Casa.
Já o grego Theo Angelopoulos focaliza uma cena bem paulistana: a atuação de um pastor, transposta no filme para o metrô. No total, um filme de episódios em que a precariedade da produção é suprida, na maior parte dos casos, pela inspiração dos realizadores e, sem dúvida, uma agradável surpresa produzida pela Mostra.

MUNDO INVISÍVEL
DIREÇÃO vários
QUANDO hoje, às 20h e 22h, e amanhã, às 19h, no Frei Caneca Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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