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"Carmen é ligeiramente insana"
da Reportagem Local
A meio-soprano norte-americana Carolyn Sebron, 44, acredita
que a cigana Carmen é "ligeiramente louca", por aceitar o destino, lido nas cartas, de que morreria
assassinada. Ela caminha em direção à morte, mas sem deixar, em
momento algum, de exercitar sua
liberdade amorosa. Leia a seguir
sua entrevista:
(JBN)
Folha - Qual a sua familiaridade
com o personagem de Carmen?
Carolyn Sebron - Participei de
duas produções, a primeira em Palermo, em 1996, e no ano seguinte
em Verona, com a direção de Franco Zeffirelli.
Folha - Zeffirelli acredita que Carmen é contextualmente uma pecadora. Contra ela, pode-se atirar todas as pedras.
Sebron - Ele me permitiu interpretar o papel de acordo com o que
eu pensava. Pessoalmente, acho
que Carmen é ligeiramente louca.
Ela possui os homens que quer.
Não é uma prostituta, é uma operária, uma cigana que acredita na
predestinação.
Folha - Há a liberdade amorosa.
Ela sabe que homem trará para a
sua cama na noite seguinte.
Sebron - Isso não é próprio de
Carmen. Qualquer mulher sabe
que cabe a ela escolher o homem
com que dividirá a cama. A exteriorização desse comportamento
chocou o público há um século.
Folha - Mas ela não é a liberdade
no sentido "feminista". Ela é punida com a morte por ser livre.
Sebron - Outras personagens
morrem ao fim de óperas. Violetta
("La Traviata") é comparativamente bem-comportada. Carmen
não foi criada por Bizet só para que
sua liberdade fosse punida. A morte é só um elemento da tragédia.
Folha - Como assim?
Sebron - Ela sabia, como cigana,
que não poderia escapar da fatalidade que certa vez leu nas cartas.
Ela sabia que seria morta.
Folha - É por isso que ela é "ligeiramente louca"?
Sebron - A insanidade está na
aceitação do destino. Ela poderia
ter escapado de Don José. Mas ela
o espera, sabendo que morrerá.
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