São Paulo, segunda, 2 de novembro de 1998

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Argentina vê atitude "masculina'

da Reportagem Local

A meio-soprano argentina Graciela Alperyn, 40, concebe a personagem Carmen como uma mulher atemporal, independente, feminina ao extremo, mas também proprietária de um comportamento sensual que a sociedade tolera bem mais nos homens. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista.
(JBN)

Folha - Quem é a sua Carmen, a que fauna humana ela pertence?
Graciela Alperyn -
Não é uma mulher com raízes no século 19. Ela é como a maioria das mulheres de hoje, como eu. Ela trabalha para se manter. Ela é independente.
Folha - Em troca da independência econômica, ela faz questão de exercitar a liberdade do prazer?
Alperyn -
Ela possui, a meu ver, uma atitude "masculina" com relação à sensualidade. Carmen é uma mulher em todos os sentidos. Mas o comportamento dela é socialmente mais tolerado nos homens do que nas mulheres.
Folha - Essa ambiguidade teria levado Bizet a escrever o papel para uma meio-soprano (voz mais grave) e não para uma soprano (voz mais aguda)?
Alperyn -
Não acredito. Há muitas sopranos que cantam esse papel. Apesar de sua tessitura vocal, Carmen é um papel universal. É um papel feminino. Não é um papel de meio-soprano. Para se fazer uma boa Carmen, é preciso mobilizar a inteligência, saber explorar o "physique du rôle". Essa universalidade faz dela alguém que não se esgota no movimento sensual dos quadris. Há uma carga psicológica interna muito poderosa, intensa, estimulante.
Folha - É o papel que a senhora mais gosta de interpretar?
Alperyn -
Sem dúvida. É meu papel favorito e também aquele que eu tenho interpretado em minha carreira com maior frequência. Já cantei Carmen em 150 récitas de 25 produções diferentes.
Folha - Quais foram as últimas dessas produções?
Alperyn -
Foram nas óperas de Paris, Munique e Zurique.



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