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Argentina vê atitude "masculina'
da Reportagem Local
A meio-soprano argentina Graciela Alperyn, 40, concebe a personagem Carmen como uma mulher
atemporal, independente, feminina ao extremo, mas também proprietária de um comportamento
sensual que a sociedade tolera bem
mais nos homens. Leia a seguir os
principais trechos de sua entrevista.
(JBN)
Folha - Quem é a sua Carmen, a
que fauna humana ela pertence?
Graciela Alperyn - Não é uma
mulher com raízes no século 19.
Ela é como a maioria das mulheres
de hoje, como eu. Ela trabalha para
se manter. Ela é independente.
Folha - Em troca da independência econômica, ela faz questão de
exercitar a liberdade do prazer?
Alperyn - Ela possui, a meu ver,
uma atitude "masculina" com relação à sensualidade. Carmen é
uma mulher em todos os sentidos.
Mas o comportamento dela é socialmente mais tolerado nos homens do que nas mulheres.
Folha - Essa ambiguidade teria
levado Bizet a escrever o papel para uma meio-soprano (voz mais
grave) e não para uma soprano
(voz mais aguda)?
Alperyn - Não acredito. Há muitas sopranos que cantam esse papel. Apesar de sua tessitura vocal,
Carmen é um papel universal. É
um papel feminino. Não é um papel de meio-soprano. Para se fazer
uma boa Carmen, é preciso mobilizar a inteligência, saber explorar
o "physique du rôle". Essa universalidade faz dela alguém que não se
esgota no movimento sensual dos
quadris. Há uma carga psicológica
interna muito poderosa, intensa,
estimulante.
Folha - É o papel que a senhora
mais gosta de interpretar?
Alperyn - Sem dúvida. É meu papel favorito e também aquele que
eu tenho interpretado em minha
carreira com maior frequência. Já
cantei Carmen em 150 récitas de 25
produções diferentes.
Folha - Quais foram as últimas
dessas produções?
Alperyn - Foram nas óperas de
Paris, Munique e Zurique.
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