São Paulo, segunda, 2 de novembro de 1998

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RELÂMPAGOS
Trinados do viúvo

JOÃO GILBERTO NOLL

Hoje vou ao cemitério. No caminho compro umas flores. Rezar no cemitério é engraçado. Tudo é tão como tem de ser que a gente nem reza. É como se eu já tivesse nascido viúvo. Depois tomo uma cerveja. Tem um canarinho no boteco. O trinado. Vou ao banheiro. Não sei se aquelas rodelas de limão nos mictórios servem para atenuar o cheiro do ambiente. Acho que são rodelas inúteis, afogadas pela espuma da bexiga. Hoje é Dia dos Mortos, daqueles que já ignoram cerveja e feriados. À noite vou ver na TV multidões em cemitérios. O vizinho está no manicômio. Diz que é Deus anestesiado.



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