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RELÂMPAGOS
Trinados do viúvo
JOÃO GILBERTO NOLL
Hoje vou ao cemitério. No
caminho compro umas flores. Rezar no cemitério é engraçado. Tudo é tão como
tem de ser que a gente nem
reza. É como se eu já tivesse
nascido viúvo. Depois tomo
uma cerveja. Tem um canarinho no boteco. O trinado.
Vou ao banheiro. Não sei se
aquelas rodelas de limão
nos mictórios servem para
atenuar o cheiro do ambiente. Acho que são rodelas
inúteis, afogadas pela espuma da bexiga. Hoje é Dia
dos Mortos, daqueles que já
ignoram cerveja e feriados.
À noite vou ver na TV multidões em cemitérios. O vizinho está no manicômio.
Diz que é Deus anestesiado.
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