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"Duplo" de Scliar, vencedor do Booker Prize chega ao Brasil
"A Vida de Pi", de Yann Martel, tem trajetória polêmica por se inpirar em livro do autor gaúcho
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2002 o canadense Yann
Martel, 41, até então um desconhecido completo, ganhou o prêmio literário mais importante da
língua inglesa, o Booker Prize.
Saiu direto da piscininha para a
crista da onda, em alto mar. Mas
eis que de súbito a carreira do autor de "A Vida de Pi" quase sofreu
um Titanic. Martel, de uma hora
para outra, passou a viver situação semelhante ao herói de seu livro, um jovem indiano que em
um naufrágio acaba em um bote
salva-vidas junto com um tigre.
O tigre, neste caso, se chamava
plágio. Jornais do mundo inteiro
arreganhavam os dentes para
Martel e o acusavam de ter roubado a história de seu livro de outro
romance -e de um escritor brasileiro, Moacyr Scliar.
Pi, não é segredo, sobrevive ao
naufrágio. E Martel também se
saiu bem. Explicou que havia citado Scliar na abertura do livro, pediu desculpas (póstumas) ao brasileiro, mostrou que apesar de ter
usado a idéia central do livro
scliarno "Max e os Felinos", de alguém num barco com animais
selvagens (no caso de Scliar uma
pantera), o resto todo da trama
não tinha nada a ver (e Martel alega que nem mesmo havia lido a
novela do brasileiro).
A partir daí, "A Vida de Pi" navegou de vento em popa. Foi lançado em 42 países, comercializado para o cinema (será dirigido
por M. Night Shyamalan), vendeu
centenas de milhares de cópias.
Quase dois anos depois, o bote
de Martel chega ao Brasil, atracado pela editora Rocco. Em entrevista por telefone à Folha, ontem
pela manhã, o escritor puxou logo
de cara o assunto Moacyr Scliar.
Leia a seguir trechos da conversa.
Folha - Já na primeira página do
romance o sr. cita o Brasil, como
um lugar onde o personagem esteve. O sr. menciona o país outras vezes ao longo de "A Vida de Pi"...
Yann Martel - (risos)...Já sei, você
vai me perguntar se é por causa
do Moacyr Scliar, não?
Folha - Bem...
Martel - Não. Eu citei o Brasil
porque o personagem estudava
os bichos-preguiça e sabia que
existiam aí. Na época que escrevi
nem liguei isso a Scliar.
Folha - Já que estamos falando
em Scliar...
Martel - (risos) Eu sabia...
Folha - ...qual a sua opinião hoje
sobre este episódio? Você se arrepende de alguma coisa?
Martel - Como é sabido, eu não
havia lido "Max e os Felinos" até
que acontecesse o escândalo. Conhecia só o tema do livro, por
meio de uma resenha que havia lido há tempos. O romance mesmo
só li depois do prêmio.
Folha - E o que achou dele?
Martel - É um livro muito bom.
Mas não tem quase nada que ver
com o meu. Existe uma similaridade quanto à premissa, claro,
mas o resto é muito diferente.
Folha - Você usou a palavra "escândalo". Por que a história tomou
tal proporção?
Martel - Acho que o escândalo
foi em parte por minha culpa.
Quando o livro saiu nos EUA me
pediram para escrever um artigo
sobre como tinha feito o romance. Fiz um pequeno ensaio mencionando a tal resenha, e o fiz de
modo desastrado. Lembrava-me
erroneamente que o texto tratava
o livro de Scliar com indiferença.
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