|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"FREAK TO MEET YOU"
Jumbo Elektro estréia avacalhando o Brasil
Divulgação
|
O grupo paulistano Jumbo Elektro, que lança primeiro álbum |
DA REPORTAGEM LOCAL
É uma enorme bobagem, esse
Jumbo Elektro que lança hoje, com show no Blen Blen Brasil,
seu álbum de estréia. O título do
CD do septeto paulistano delata a
bobeira: "Freak to Meet You - The
Very Best of Jumbo Elektro (The
Ultimate Compilation)".
O nome é em inglês, decalca os
Rolling Stones de "Symphathy for
the Devil" (68), faz arremedo de
uma suposta coletânea de sucessos (sucessos?), a capa quase macaqueia os Beatles de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
(67), tudo denuncia o espírito colonizado do conjunto.
O som, então, é de lascar. Aparentemente sem saber nem o português natal, os sete rapazes de visual amalucado e codinomes infames se alterna entre portunhol,
inglês, francês, alemão, japonês.
Na verdade não cantam em nenhuma dessas línguas, mas em
"embromation", sintoma máximo da incultura brasileira atual.
Roqueiros, fazem um som nada
original, que na maior parte do
tempo lembra bandas gringas de
new wave, como Talking Heads e
Devo, e de acid rock, como Happy
Mondays. Nos sulcos que sobram, imitam Deus e todo mundo, do cafona-chique francês Serge Gainsbourg ao punk radical
dos Stooges de Iggy Pop -desses,
ousam o cúmulo de versão subdesenvolvida para "T.V. Eye" (70).
Praticam perversões e imoralidades, do tipo dizer que "She Has
a Penis" e celebrar desrespeitosa
"Bossa Japa Nova".
É o fim do mundo.
O fim do mundo
Stop. A crítica acima segue o espírito do Jumbo Elektro -é, como eles próprios diriam em embromation, "fake-freak" (falsa,
farsesca, maluco). Tudo o que vai
dito acima é fato, mas foi proferido de modo ranheta, reacionário,
parceria entre a faca e a ferida.
Sendo tudo isso, Jumbo Elektro
é muito mais. É um grande esculacho, e nesse sentido copia muito
mais a tropicália brasileira do que
tudo aquilo que parece copiar.
Copia tanto para misturar gozação, acidez, ironia e... amor pelo
que zomba e ridiculariza.
Vai mais um passo adiante, pois
o comboio independente zoa a
própria tropicália que o inspira. É
a primeira banda bem-humorada
(e não simplesmente engraçadinha, nos moldes dos Mamonas
Assassinas, por exemplo) a surgir
em São Paulo em décadas.
Ao renunciar ao complexo de
vesícula biliar estuporada que São
Paulo carimba na própria testa de
modo contínuo e recorrente, o
Jumbo Elektro (isso é quase nome
de supermercado falido, lembra?)
reintegra São Paulo ao Brasil. É
coerente e contraditório que o faça em embromation, língua que
se fala, mas não se entende (ou
que se entende, mas não se fala).
Acontece como se o Jumbo pedisse ou quisesse compartilhar
com o carioca Seu Jorge a máxima
de que "agora faço parte do país/ a
inteligência é fundamental".
Sampa, diz, não é bolso lotado de
vil metal nem fígado podre. É, como todos os Estados, brasilzinho
guardado dentro do Brasilzão
(ainda que traduzido no estranho
linguajar da embromation).
É o fim do mundo. Como nós o
conhecemos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Freak to Meet You - The Very
Best of Jumbo Elektro (The
Ultimate Compilation)
Grupo: Jumbo Elektro
Lançamento: Reco-Head/Tratore
Quanto: R$ 23, em média
JUMBO ELEKTRO. Show do grupo
paulistano. Onde: Blen Blen Brasil (r.
Inácio Pereira da Rocha, 520, Pinheiros,
São Paulo, tel. 0/xx/11/3815-4999).
Quando: hoje, às 22h. Quanto: R$ 20.
Texto Anterior: Discos/lançamentos - "In cité": Lenine fecha a tampa da gravadora BMG Próximo Texto: Contardo Calligaris: Uma condição básica para uma polícia eficiente Índice
|