São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

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"FREAK TO MEET YOU"

Jumbo Elektro estréia avacalhando o Brasil

Divulgação
O grupo paulistano Jumbo Elektro, que lança primeiro álbum


DA REPORTAGEM LOCAL

É uma enorme bobagem, esse Jumbo Elektro que lança hoje, com show no Blen Blen Brasil, seu álbum de estréia. O título do CD do septeto paulistano delata a bobeira: "Freak to Meet You - The Very Best of Jumbo Elektro (The Ultimate Compilation)".
O nome é em inglês, decalca os Rolling Stones de "Symphathy for the Devil" (68), faz arremedo de uma suposta coletânea de sucessos (sucessos?), a capa quase macaqueia os Beatles de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (67), tudo denuncia o espírito colonizado do conjunto.
O som, então, é de lascar. Aparentemente sem saber nem o português natal, os sete rapazes de visual amalucado e codinomes infames se alterna entre portunhol, inglês, francês, alemão, japonês. Na verdade não cantam em nenhuma dessas línguas, mas em "embromation", sintoma máximo da incultura brasileira atual.
Roqueiros, fazem um som nada original, que na maior parte do tempo lembra bandas gringas de new wave, como Talking Heads e Devo, e de acid rock, como Happy Mondays. Nos sulcos que sobram, imitam Deus e todo mundo, do cafona-chique francês Serge Gainsbourg ao punk radical dos Stooges de Iggy Pop -desses, ousam o cúmulo de versão subdesenvolvida para "T.V. Eye" (70).
Praticam perversões e imoralidades, do tipo dizer que "She Has a Penis" e celebrar desrespeitosa "Bossa Japa Nova".
É o fim do mundo.

O fim do mundo
Stop. A crítica acima segue o espírito do Jumbo Elektro -é, como eles próprios diriam em embromation, "fake-freak" (falsa, farsesca, maluco). Tudo o que vai dito acima é fato, mas foi proferido de modo ranheta, reacionário, parceria entre a faca e a ferida.
Sendo tudo isso, Jumbo Elektro é muito mais. É um grande esculacho, e nesse sentido copia muito mais a tropicália brasileira do que tudo aquilo que parece copiar. Copia tanto para misturar gozação, acidez, ironia e... amor pelo que zomba e ridiculariza.
Vai mais um passo adiante, pois o comboio independente zoa a própria tropicália que o inspira. É a primeira banda bem-humorada (e não simplesmente engraçadinha, nos moldes dos Mamonas Assassinas, por exemplo) a surgir em São Paulo em décadas.
Ao renunciar ao complexo de vesícula biliar estuporada que São Paulo carimba na própria testa de modo contínuo e recorrente, o Jumbo Elektro (isso é quase nome de supermercado falido, lembra?) reintegra São Paulo ao Brasil. É coerente e contraditório que o faça em embromation, língua que se fala, mas não se entende (ou que se entende, mas não se fala).
Acontece como se o Jumbo pedisse ou quisesse compartilhar com o carioca Seu Jorge a máxima de que "agora faço parte do país/ a inteligência é fundamental". Sampa, diz, não é bolso lotado de vil metal nem fígado podre. É, como todos os Estados, brasilzinho guardado dentro do Brasilzão (ainda que traduzido no estranho linguajar da embromation).
É o fim do mundo. Como nós o conhecemos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Freak to Meet You - The Very Best of Jumbo Elektro (The Ultimate Compilation)
    
Grupo: Jumbo Elektro
Lançamento: Reco-Head/Tratore
Quanto: R$ 23, em média


JUMBO ELEKTRO. Show do grupo paulistano. Onde: Blen Blen Brasil (r. Inácio Pereira da Rocha, 520, Pinheiros, São Paulo, tel. 0/xx/11/3815-4999). Quando: hoje, às 22h. Quanto: R$ 20.


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