São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCOS/LANÇAMENTOS

"IN CITÉ"

Artista lança show parisiense

Lenine fecha a tampa da gravadora BMG

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Talvez nem o próprio Lenine soubesse disso exatamente, mas seu novo disco chega para fechar a tampa da participação brasileira da multinacional BMG como ela era conhecida até agora.
Entre a apresentação do DVD e CD "In Cité" pela BMG, na semana passada, e, agora, a fusão com a Sony chegou a um termo no Brasil, com uma onda de demissões apanhando em cheio a BMG. A casa teria perdido 15 funcionários (dentro de um total de cerca de 70), contra apenas um da Sony.
Dos funcionários de alto escalão da BMG, restou apenas o diretor artístico Sérgio Bittencourt, de perfil mais popular. A Sony, ao que tudo indica, deve ocupar os principais cargos da nova Sony BMG -mas não responde apelos da Folha desde o início para comentar o novo panorama.
A nova onda não atinge, por enquanto, os elencos das duas casas, mas o próprio "In Cité" de Lenine, 45, é resultado de transformações que vêm encolhendo a participação das multinacionais no negócio musical brasileiro.
Abrigado e difundido pela BMG desde o seu álbum solo de estréia, em 97, o já veterano Lenine (que antes lançara discos em dupla com Lula Queiroga, em 83, e com Marcos Suzano, em 93) teve de reformular seu contrato para poder lançar "In Cité", gravado num show ao vivo na França.
"Fiz um trabalho em euros, cercado de gente competente do Brasil que levei para lá, num ano que não foi fácil para ninguém. É um sonho de consumo para qualquer um", começa. "Eu e a BMG tivemos que encontrar uma maneira de viabilizar a parceria, que deve ser o modelo daqui para a frente", continua, referindo-se também ao selo Casa Nove, que ele inaugura e do qual a BMG cuida (ou cuidava) de marketing, promoção, divulgação etc.
"Mas isso não é novo para mim, o disco "Olho de Peixe" [de 93, em parceria com Suzano] já foi assim, feito pela Mameluco [sua produtora, que hoje se desdobra também em selo]", completa, encarando os velhos novos tempos.
À parte o emagrecimento da indústria, "In Cité" vem refletir uma pujança que não é de fábrica, mas de artesanato. É fruto de um namoro bem-sucedido entre Lenine e a França, que culminou em dois shows em abril deste ano, na casa parisiense Cité de la Musique.
Lenine chegou ali integrado ao projeto "Carte Blanche", segundo o qual a casa de espetáculos dá carta branca a artistas convidados para criarem espetáculos exclusivos -antes, o único brasileiro convidado fora Caetano Veloso.
Com um pé lá e outro no Brasil, Lenine formulou um projeto híbrido, que hoje origina o CD/ DVD "In Cité". Quase metade do material é feito de canções inéditas, que se somam a releituras intimistas de canções de seus álbuns passados.
Híbrido, "In Cité" se acondiciona em parte no formato conservador "ao vivo", hoje hegemônico entre gravadoras e músicos brasileiros; de resto, belisca a ousadia e o ineditismo de canções programadas especialmente para o público francês. "Ele não difere dos meus outros discos, que são sempre muito autorais", defende.
Lenine tenta desterritorializar diferenças: "Os curiosos franceses são iguaizinhos aos brasileiros. O que faço vem se cristalizando como um todo, não como uma música específica". A seu favor há o argumento de que, sob o desmonte da BMG, o CD/DVD "In Cité" foi concretizado graças a apoio oficial de Pernambuco, o Estado natal de Lenine.


LENINE IN CITÉ. CD e DVD de Lenine. Lançamento: Casa Nove/BMG. Quanto: R$ 30 (o CD) e R$ 50 (o DVD), em média.


Texto Anterior: Mundo gourmet: Entre massagens, Boa Bistrô tem cozinha que interessa
Próximo Texto: "Freak to meet you": Jumbo Elektro estréia avacalhando o Brasil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.