ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem conhece os discos anteriores de Luiz Tatit (assim como a obra do grupo Rumo) sabe que suas canções esbanjam humor, inteligência e idéias criativas. Nada mais natural, portanto, que esses traços se repitam no inspirado "Ouvidos Uni-vos".
Tatit não se preocupou em criar um álbum temático ou mesmo amarrá-lo artificialmente. Para garantir a unidade, confiou no estilo característico de suas composições e na homogeneidade dos arranjos sutis e discretos, na medida certa para valorizar as letras.
Uma das melhores faixas é "Terceira Pessoa". Nela, o também professor de lingüística Tatit se manifesta de forma evidente, provando que é possível fazer uma canção inteligente sem soar pedante. A letra transforma em enredo uma questão gramatical: imagina a angústia de um sujeito que tem saudades da mulher, a antes distante "ela", ao vê-la transformada na real "você".
Igualmente inventiva é a canção "O Tom de Quem Reclama", uma pequena jóia do canto falado. Mais falando do que cantando, o protagonista lamenta não ter controle sobre sua voz. "Isso me incomoda / acho a vida tão bacana / mas a voz não se harmoniza / ao contrário, até se inflama / e me traz um conteúdo / que não estava no programa", descreve a letra.
Outra faixa saborosa é "Perdido", exemplar das conhecidas canções narrativas de Tatit, que descrevem relações amorosas com humor. Não faltam outras mais passionais, como a valsa "Minta" (parceria com Ricard Breim), que recebeu uma bela interpretação de Ná Ozzetti.
Tatit também acerta na sintética "Dodói" (parceria com Itamar Assumpção). Sua interpretação contida provoca um contraste inesperado com a letra lamentosa ("ouvido dói / libido dói / fígado dói / até meu dom dói / pois quando canto / não importa o tom dói"). O saudoso Itamar certamente a aprovaria, se tivesse tido tempo para conhecê-la. (CC)

Ouvidos Uni-vos
   

Artista: Luiz Tatit
Gravadora: Dabliú
Quanto: R$ 30, em média

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