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Fiel ao antigo estilo, "Ouvidos Uni-vos" é o primeiro trabalho do compositor paulista sem canções da época que integrava o Rumo
Tatit lança inédita com Itamar Assumpção
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dois anos atrás, quando o já
doente Itamar Assumpção propôs que iniciassem uma parceria
musical, Luiz Tatit pensou que ele
não levaria a idéia adiante. Dias
depois, Itamar começou a lhe enviar letras, compulsivamente.
"Todas eram curtinhas. Ele dizia
que estava velho demais para fazer músicas longas. Mas não deu
tempo. Ele nem chegou a ouvir a
melodia que fiz", recorda o compositor paulista.
"Dodói", a inédita parceria da
dupla, aparece entre as 13 faixas
do novo CD de Luiz Tatit, "Ouvidos Uni-vos". O título foi extraído
dos versos de "Rock de Breque",
canção também incluída no álbum, que o ex-integrante do grupo Rumo compôs em homenagem a Itamar Assumpção.
Tatit ressalta que esse é seu primeiro trabalho sem canções da
época do Rumo. Isso não significa
que tenha abandonado o estilo
que tornou o grupo um dos expoentes da chamada "vanguarda
paulistana" dos anos 80. As novas
canções do compositor e professor de lingüística da USP continuam seguindo a criativa concepção do "canto falado", cujas letras
são entoadas, reproduzindo a melodia natural da fala.
"Acho que este disco é o mais
musical dos que fiz no sentido de
acabamento", diz Tatit, comparando-o aos anteriores "Meio"
(2000) e "Felicidade" (1997).
"Antes eu deixava quase tudo
por conta dos arranjadores, só me
interessava pela composição", admite Tatit.
Por causa dos shows que fez nos
últimos anos, em geral acompanhado apenas por seu violão e o
do filho Jonas, Tatit se viu obrigado a participar mais do acabamento de suas canções. "Como já
tínhamos uma espinha dorsal dos
arranjos antes de entrar em estúdio, ficou fácil completá-los. Isso
deu uma unidade para este disco
que os anteriores não têm."
Se em seu disco de estréia assinou todas as faixas ("eu tinha um
estoque excessivo", justifica), desta vez Tatit inclui parcerias com
Dante Ozzetti, Chico Saraiva, Zé
Miguel Wisnik, Ricardo Breim e
Edward Lopes, além de sete próprias. Já a cantora Ná Ozzetti, outra antiga parceira, assume o vocal da emotiva valsa "Minta".
"Agora tenho tantas encomendas que componho durante o ano
todo. Na época do Rumo, eu só
compunha ao preparar um novo
disco. Hoje me sinto no auge da
carreira", diz Tatit. Afinal, como
ele, outros músicos daquela geração só viram suas carreiras decolarem já nos anos 90.
Curiosamente, seja por consciência ou humildade, Tatit relativiza o alcance dos CDs que já gravou. Com um toque de ironia, refere-se a eles como "arquivos",
pelo fato de não freqüentarem paradas de sucessos ou programas
de TV mais populares.
"Eles servem de arquivos para
as cantoras, com mais projeção,
poderem gravar essas canções
mais tarde", explica. Por sinal, vale lembrar que "Achou", a canção
de Tatit e Dante Ozzetti defendida
com sucesso pela cantora Ceumar
no recente Festival da Cultura,
não entrou no repertório de "Ouvidos Uni-vos". "Eu quis evitar
problemas com o festival, mas ela
vai estar no meu próximo arquivo", diverte-se Tatit.
Carlos Calado é jornalista e crítico, autor de "Tropicália - A História de uma Revolução Musical", entre outros livros
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