São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

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"Tradição política do continente é autoritária"

Para Carlos Fuentes, os 200 anos de levantes pró-independência na América Latina servem para alertar sobre fragilidade política

Livro que sai no Brasil narra relações afetivas em meio à história mexicana; autor está escrevendo sobre guerrilheiro colombiano


DA ENVIADA A GUADALAJARA

Em 2010, vários países latino-americanos vão comemorar os 200 anos dos primeiros levantes pró-independência, que sucederam da Argentina até o México. Para Fuentes, a data pode ser uma chance de discutir a questão da representação.
"Hoje se diz que estamos bem por termos democracias, sindicatos, imprensa etc. Só que não demos conta de atender a demandas sociais.
Daí surgem Chávez, Morales, Correa a dizer que as atendem. E voltamos a correr o risco de atrair o fantasma do autoritarismo.
A tradição política deste continente não é democrática, e sim autoritária. Se há um problema a ser exposto nesta efeméride, é este, o que fazer diante dessa fragilidade política."
No Brasil, Fuentes tem lançado agora, pela Rocco, "Todas as Famílias Felizes", pequenas histórias que têm relações afetivas como tema principal e como pano de fundo a história do México. "Sempre me atraiu colher exemplos da pequena história, como fazia Flaubert, passagens triviais do dia a dia, e fazê-las crescer literariamente." Crueldade e más intenções são comuns aos principais personagens.
"Protagonistas bons não dão necessariamente boa literatura, a não ser em casos especiais, como o Quixote de Cervantes.
Do mesmo modo, a felicidade não é matéria-prima para uma grande obra. A dor permite experimentos literários mais intensos. A pessoa que porta a semente do mal, da expulsão do Paraíso, é mais interessante para o escritor, tem mais camadas psicológicas."

Guerrilha
Fuentes conta que está trabalhando num novo livro, sobre o guerrilheiro colombiano Carlos Pizarro Leongómez. "Era um jovem de classe média que virou um guerrilheiro marxista de origem burguesa, como outros tantos que se produziram na América Latina."
Pizarro, a certa altura da vida, percebeu que a guerrilha estava demasiado contaminada pelo narcotráfico e decidiu entrar na vida política de modo legal. Estava em meio a campanha eleitoral, candidato à Presidência de seu país, até que sofre um atentado e morre, vítima de um tiro disparado por um sicário. O garoto assassino também foi morto, e com ele foi encontrado um bilhete que dizia: "Não deixem de entregar os US$ 2 mil para minha mãe".
"O rapaz morreu por US$ 2 mil. Pizarro morreu por ideais. É uma história cheia de significados, e demoro para escrevê-la porque a Colômbia a cada dia oferece novos elementos para a literatura." (SYLVIA COLOMBO)

A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da organização do evento



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