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"Tradição política do continente é autoritária"
Para Carlos Fuentes, os 200 anos de levantes pró-independência na América Latina servem para alertar sobre fragilidade política
Livro que sai no Brasil narra relações afetivas em meio à história mexicana; autor está escrevendo sobre guerrilheiro colombiano
DA ENVIADA A GUADALAJARA
Em 2010, vários países latino-americanos vão comemorar
os 200 anos dos primeiros levantes pró-independência, que
sucederam da Argentina até o
México. Para Fuentes, a data
pode ser uma chance de discutir a questão da representação.
"Hoje se diz que estamos
bem por termos democracias,
sindicatos, imprensa etc. Só
que não demos conta de atender a demandas sociais.
Daí
surgem Chávez, Morales, Correa a dizer que as atendem. E
voltamos a correr o risco de
atrair o fantasma do autoritarismo.
A tradição política deste
continente não é democrática,
e sim autoritária. Se há um problema a ser exposto nesta efeméride, é este, o que fazer diante dessa fragilidade política."
No Brasil, Fuentes tem lançado agora, pela Rocco, "Todas
as Famílias Felizes", pequenas
histórias que têm relações afetivas como tema principal e como pano de fundo a história do
México. "Sempre me atraiu colher exemplos da pequena história, como fazia Flaubert, passagens triviais do dia a dia, e fazê-las crescer literariamente."
Crueldade e más intenções
são comuns aos principais personagens.
"Protagonistas bons
não dão necessariamente boa
literatura, a não ser em casos
especiais, como o Quixote de
Cervantes.
Do mesmo modo, a
felicidade não é matéria-prima
para uma grande obra. A dor
permite experimentos literários mais intensos. A pessoa
que porta a semente do mal, da
expulsão do Paraíso, é mais interessante para o escritor, tem
mais camadas psicológicas."
Guerrilha
Fuentes conta que está trabalhando num novo livro, sobre o guerrilheiro colombiano
Carlos Pizarro Leongómez.
"Era um jovem de classe média que virou um guerrilheiro
marxista de origem burguesa,
como outros tantos que se produziram na América Latina."
Pizarro, a certa altura da vida, percebeu que a guerrilha estava demasiado contaminada
pelo narcotráfico e decidiu entrar na vida política de modo legal. Estava em meio a campanha eleitoral, candidato à Presidência de seu país, até que sofre um atentado e morre, vítima de um tiro disparado por
um sicário. O garoto assassino
também foi morto, e com ele foi
encontrado um bilhete que dizia: "Não deixem de entregar os
US$ 2 mil para minha mãe".
"O rapaz morreu por US$ 2
mil. Pizarro morreu por ideais.
É uma história cheia de significados, e demoro para escrevê-la porque a Colômbia a cada dia
oferece novos elementos para a
literatura."
(SYLVIA COLOMBO)
A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite
da organização do evento
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