São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

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Ilusões perdidas

O escritor mexicano Carlos Fuentes tem livro lançado no Brasil e afirma estar desolado com os rumos políticos da América Latina

Damian Dovarganes - 13.fev.08/Associated Press
Oescritor Carlos Fuentes durante entrevista em Beverly Hills, na Califórnia

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A GUADALAJARA

Ao lado do peruano Mario Vargas Llosa, o mexicano Carlos Fuentes é um dos mais produtivos remanescentes do chamado "boom latino-americano" -movimento literário que ganhou repercussão internacional nos anos 1960 e 1970. Aos 81, continua viajando, dando palestras e escrevendo livros de ficção e artigos para jornais.
Na Feria Internacional del Libro de Guadalajara, que acontece no México até o dia 6 de dezembro, ele participou de quatro mesas: apresentação do novo romance, "Adán en Edén"; entrega de prêmio do grupo espanhol Santillana; debate com o jovem escritor mexicano Jorge Volpi; e discussão sobre o bicentenário das independências latino-americanas.
Tamanho fôlego, porém, não condiz com o desânimo em relação ao futuro político e literário do México e do continente.
"Nunca vivenciei um período de tamanha inércia e desolação por aqui. É um contraste ver o Brasil em tão bom momento, como protagonista regional, enquanto nós não conseguimos nem dialogar com os Estados Unidos nem nos reconciliarmos com a América hispânica", disse o escritor, em entrevista à Folha, no hotel em que se hospeda em Guadalajara.
O autor de alguns clássicos da literatura contemporânea do continente, como "Aura" e "A Morte de Artemio Cruz", traça a trajetória da desesperança de uma geração.
"Cresci no período posterior à Revolução Mexicana, havia otimismo e condescendência com relação ao governo do PRI [Partido Revolucionário Institucional]. Depois do massacre de Tlatelolco [violenta repressão a manifestantes pouco antes das Olimpíadas], em 1968, surgiu a dúvida, a descrença, e fomos aos poucos perdendo a ilusão. Um processo de declínio que nos trouxe, até hoje, a essa apatia terrível."
Aos clichês românticos e nostálgicos de Fuentes, contrapôs-se o otimismo e a ironia de Jorge Volpi, 41, da chamada geração crack -que tem como objetivo buscar caminhos literários longe da tradição do realismo mágico.
Numa das mesas mais concorridas do evento, Fuentes e Volpi travaram um amistoso duelo em que o futuro da América Latina foi tema principal.
Volpi apresentou "El Insomnio de Bolívar" (a insônia de Bolívar), grupo de pequenos ensaios baseados em experiências pessoais em que satiriza comportamentos de governantes e da sociedade em diversos países do continente.


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