São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

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Brasília consagra longa nascido de projeto coletivo

Sérgio Borges, de "O Céu sobre os Ombros", ressalta trabalho da equipe no longa que venceu cinco prêmios

Filme flerta com o limite entre o real e a ficção e coroa trabalho da Teia, grupo mineiro fundado pelo diretor

Aline Arruda/Divulgação
Sérgio Borges recebe prêmio anteontem em Brasília

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Os cinco prêmios entregues ao filme "O Céu sobre os Ombros", na noite de anteontem, no Festival de Brasília, revelaram para o público um novo cineasta: Sérgio Borges. Mas não só. O resultado reforça, acima de tudo, o sentido do cinema como atividade coletiva.
Borges não é pássaro solitário. Sócio-fundador da Teia, um coletivo de Belo Horizonte, o cineasta de 35 anos faz parte de um grupo que vem tentando arejar a cena audiovisual brasileira.
"A gente tem o desejo de retomar o cinema como algo coletivo", disse em entrevista à Folha. Ao subir ao palco do Cine Brasília para apresentar o longa, um dos seis em competição, fez questão de nomear, um a um, os integrantes da equipe. Todos ali, do fotógrafo ao diretor de arte, disse, eram também cineastas, já tinham feito filmes.
"Temos menos gente participando, mas todos participando mais intensamente", define. Seu filme teve uma equipe de sete pessoas e um orçamento de R$ 150 mil.

ATORES DE SI MESMOS
"O Céu..." se inclui na linhagem de filmes contemporâneos que borram as fronteiras entre ficção e documentário, entre depoimento e representação. "É pautado pela ideia de que as pessoas todas são personagens. Estamos todos inseridos no ambiente audiovisual. Nossos desejos e fantasias passam pela imagem."
Borges se recusa, porém, a utilizar a expressão não ator. "Mesmo que a vida tenha servido de ponto de partida, eles estão atuando. São apenas atores não profissionais", pontua, com a delicadeza a emoldurar sua fala.
O filme se quer registro real, mas se quer, também, fantasia, artifício; se quer peso e leveza. Para Borges, que trabalhou com a roteirista Manuela Dias, também premiada, o que interessava era encontrar pessoas comuns que tivessem histórias que parecessem inventadas. "Os três personagens têm lados exóticos, marginais."

BATALHA ILUSÓRIA?
Borges fez o primeiro curta em 1996, tem livros de poesia publicados e já realizou exposições de artes plásticas e fotografia. A premiação em Brasília, para quem acompanha os trabalhos da Teia, surge como reconhecimento de um projeto artístico coletivo que vinha "comendo pela beiradas" -para usar um termo mineiro.
A principal referência do diretor e de seus colegas é, sem dúvida, a videoarte mineira, representada, sobretudo, pela figura de Cao Guimarães. Mas, às imagens, incorporaram a narração.
"Nosso cinema aposta numa batalha, talvez meio ilusória, de que cinema é expressão, não é produto para ser vendido, não é gestão de negócio", diz o cineasta.


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