São Paulo, domingo, 03 de janeiro de 2010

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BIA ABRAMO

Um certo exercício de futurologia


O presente do século 21 não tem homens verdes, mas uma relação com a TV totalmente modificada


SALVE 2010 , o ano em que deveríamos fazer contato com os alienígenas. Neste primeiro domingo de janeiro, ainda é cedo para saber se Arthur C. Clarke estava certo. Há mais 51 domingos pela frente, mas, pelo estado da investigação espacial, é muito provável que o ano acabe sem que a gente troque ideias (ou tiros) com extraterrestres.
Mas, de alguma forma, estamos agora, inequivocamente no futuro. Desde que entramos no século 21, estamos vivendo a era que foi largamente imaginada como "o futuro" desde o final do século 19.
Os anos do segundo milênio pertencem tanto às utopias como às distopias, os porvires redentores ou catastróficos projetados pela humanidade na aurora de uma era de progresso técnico-científico.
O ano de 2010 encerra a primeira década do futuro, portanto. Nesses dez anos já passados, muito do que se previu para o segundo milênio caiu por terra. Por exemplo, nos primeiros tempos da internet, ainda na década de 90, quando a banda larga era privilégio de ainda menos gente do que ainda é hoje e não se imaginava o tipo de uso que prevaleceria na rede, uma das cartadas dos futurólogos era a "entrada" da internet pela TV. Aconteceu, mas no sentido oposto: a TV é que teve de se adaptar à internet e às novas maneiras de relação com a comunicação e entretenimento.
Ao mesmo tempo, diversos novos formatos da TV dobraram-se a realidades de interação social criadas ou potencializadas pela rede. Os reality shows, por exemplo, só se tornaram a modalidade de entretenimento dominante nesta primeira década do século 21 porque a internet consagrou a espetacularização da vida privada, acelerou os processos de fabricação de celebridades instantâneas e, de maneira geral, aguçou a bisbilhotice.
Agora, com enorme risco de errar, o que parece ter vindo para ficar e deve comandar talvez a próxima década na TV não é nem a tecnologia nem os formatos, mas sim uma forma cada vez mais autônoma de cada espectador se relacionar com a TV, em que ele decide como, quando e em que tipo de aparelho eletrônico ver o conteúdo audiovisual.
Bem longe do charme e da surpresa de estar em contato com homenzinhos verdes inteligentes, por certo. Mas talvez mais divertido do que foi a TV até agora.

 

Esta é minha última participação como colunista de TV da Ilustrada. Agradeço a todos aqueles que contribuíram com leitura, comentários e sugestões.

biabramo.tv@uol.com.br


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